Não só de CO2 alimenta-se a mudança do Clima. O óxido nitroso (N2O), um gás emitido quando as práticas agrícolas são ineficientes, na queima de Florestas
e em alguns processos industriais, é o terceiro mais poderoso
gás-estufa na atmosfera, além de ser o principal vilão do
enfraquecimento da camada de ozônio. A má notícia é que suas Emissões poderão dobrar em 2050. A boa notícia é que algumas ações práticas podem reduzir seus estragos rapidamente.
O N2O é um gás que existe naturalmente na atmosfera. É produzido pela
ação de bactérias no solo e nos oceanos, mas suas concentrações vêm
aumentando desde a Revolução Industrial em função de atividades humanas.
É aí que está o perigo. Trata-se de um subproduto da fertilização de
lavouras com produtos à base de nitrogênio, do tratamento de esgotos, de
Queimadas
e de processos industriais, e é considerado hoje o gás que mais
prejudica a camada de ozônio - aquela que protege os seres vivos do
excesso de raios ultravioletas emitidos pelo Sol. Alguns gases, como os
HFCs (usados em aparelhos de ar-condicionado e freezers) e o N2O tornam a
camada de ozônio na estratosfera mais rarefeita - o que pode aumentar
os casos de câncer de pele no mundo.
O óxido nitroso é um gás de duplo dano. Além de prejudicar a camada de
ozônio, é também um poderoso gás do efeito estufa. É o terceiro no
ranking da mudança climática, depois do CO2 e do metano. Estudos mostram
que uma tonelada de N2O tem impacto equivalente, na atmosfera, ao de
300 toneladas de CO2. Leva 120 anos para sumir da atmosfera.
Um estudo do Pnuma, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, lançado na conferência do Clima
de Varsóvia, na Polônia, em novembro, indica que medidas de mitigação
na emissão desse gás poderiam trazer benefícios estimados em US$ 160
bilhões anuais em diversos setores econômicos.
O relatório "Drawing Down N2O to Protect Climate and the Ozone Layer" (algo como "Reduzindo o N20 para proteger o Clima
e a camada de ozônio") foi produzido por pesquisadores de 35
instituições no mundo. Uma das conclusões do relatório é que custaria
US$ 12 bilhões ao ano para melhorar em 20% a eficiência no uso de
fertilizantes com nitrogênio. Isso seria conseguido com tecnologia e
capacitação. O esforço, na outra ponta, economizaria US$ 23 bilhões ao
ano em gastos excessivos com fertilizantes.
Pelo menos dois terços das Emissões
de N2O vêm do setor agrícola. "Isso tem a ver com a forma como fazemos
agricultura no mundo", disse Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma,
no evento de lançamento do estudo, durante a conferência do Clima em Varsóvia. "É preciso disseminar mais práticas de agricultura sustentável", recomendou. As Emissões vêm do uso de fertilizantes, estrume e resíduos de colheita.
Usinas de carvão são outra fonte importante de emissão, além de
transportes e a produção de ácidos industriais usados na fabricação de
plásticos. O N2O também aparece na queima de Florestas, no uso de madeira para cozinhar em fornos ou aquecimento. O gás também é emitido no tratamento de esgotos.
Com a utilização de práticas melhores em todos esses casos seria
possível não só reduzir a emissão do N2O, como conseguir ganhos na
produção de alimentos e em eficiência energética.
O relatório do Pnuma recomenda que a utilização de fertilizantes com
nitrogênio seja feita de maneira mais eficaz para evitar perdas. O uso
em excesso também contamina o solo, os rios, os lençóis freáticos e
causa impacto nos oceanos.
O potencial de redução dessas Emissões,
segundo o estudo do Pnuma, poderia ser de 26% em 2020 e 57% em 2050,
comparando-se com o cenário em que nenhuma medida prática for tomada.
Nesse caso, as Emissões cresceriam 83% entre 2005 e 2050.
A emissão do N2 começou a aumentar nos últimos anos e ameaça as
conquistas já obtidas no Protocolo de Montreal, acordo internacional
criado nos anos 80 justamente para banir substâncias que afetavam a
camada de ozônio e substituí-las por outras.
O tratado internacional é tido como um dos mais exitosos do Multilateralismo, mas não regulamenta as Emissões
de N2O. Em junho, os presidentes Barack Obama e Xi Jinping
estabeleceram um acordo de cooperação para diminuir a produção e o uso
de hidrofluorocarbonetos (HFCs).
Os Estados Unidos são os maiores consumidores (em geladeiras e aparelhos
de ar-condicionado) e a China, os maiores produtores - ao lado da
Índia. A decisão pode evitar a liberação de 90 gigatoneladas de CO2
equivalente até 2050. "Pode ser algo de impacto gigantesco", disse em
Varsóvia Todd Stern, o chefe dos negociadores americanos.
"A proposta do Pnuma é do tipo em que todos ganham", disse Steiner.
Reduzir a emissão de N20 poderia produzir um impacto, na mudança do Clima,
equivalente à metade da emissão de gases-estufa de todos os carros no
mundo. "Decisões nesse tópico podem contribuir também com a Economia Verde, de baixo carbono" prosseguiu.
Remover subsídios que encorajam o uso excessivo de fertilizantes
nitrogenados poderia ser uma forma de agilizar esse processo, ao mesmo
tempo em que políticas públicas poderiam criar incentivos para a adoção
de melhores práticas agrícolas. Criar metas de redução nessas Emissões também poderia impulsionar o processo, segundo o relatório.
O estudo também diz que reduções poderiam ser obtidas com cortes no
consumo de carne, principalmente em países "onde o consumo de proteínas
já está acima das necessidades". Sobre esse tópico, Steiner lembrou que
nasceu e se criou no Brasil adorando carne. "Mas não preciso comer carne
todos os dias," disse. Mas o diretor-executivo do Pnuma deixou claro
que "a ONU não vai falar sobre se as pessoas devem ou não comer carne.
Essa é uma opção pessoal".
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