O turista que passa as férias na Península de
Maraú, no Baixo Sul do estado, mal imagina. Mas ele divide belas
paisagens que misturam manguezais, lagos, rios, cachoeiras e praias
paradisíacas, com urubus, abutres e porcos. E com uma imensidão de lixo a
céu aberto. Lixo a perder de vista.
Na alta estação, pelo menos 9
mil quilos (nove toneladas) de lixo sem tratamento são despejados a céu
aberto todos os dias em um lixão que fica na península. O depósito de
lixo, que não para de crescer e está numa Área de Proteção Ambiental
(APA), hoje tem aproximadamente 40 mil quilos (40 toneladas) de resíduos
sólidos acumulados.
Localizado
na estrada entre a cidade-sede de Maraú e a praia de Barra Grande,
lixão da Península de Maraú tem40 mil quilos de lixo acumulado e fica
próximo de rio da regiãoTudo isso a apenas 12 metros do Rio
Tabatinga, um afluente do Rio Maraú que deságua em praias conhecidas da
região, como Taipu de Dentro e Campinhos. O lixão fica em um esburacado
trecho da BR-030, estrada que liga Maraú à praia de Barra Grande e de
toda a extensão da península. Hoje, o local serve de moradia para
catadores de lixo e é fonte de alimento para porcos e urubus.
ContaminaçãoO
chorume do lixão já contamina parte do paraíso oferecido aos turistas.
“Esse chorume já vem sendo jogado no rio e poluindo os lençóis freáticos
da península”, admitiu o secretário do Meio Ambiente de Maraú, Jorge
Robson. Hoje, apenas a cidade-sede de Maraú, que tem um lixão próprio e
fica mais próxima ao continente, possui saneamento básico. As outras
nove localidades da área, que produzem resíduos despejados no lixão da
península, nem sequer possuem água encanada. “A população ainda bebe
água de poços”, diz.
Situação semelhante vive a paradisíaca Ilha
de Boipeba, que pertence ao município de Cairu, no arquipélado de
Tinharé. A limpeza dos locais mais visitados por turistas chama a
atenção, mas a realidade é bem diferente a cerca de um quilômetro e meio
do centro da vila de Velha Boipeba, a principal da ilha.
Todo o
lixo produzido pelas quatro localidades da ilha - Velha Boipeba, Moreré,
Cova da Onça e Monte Alegre - é diariamente recolhido por um trator da
prefeitura e despejado em um lixão a céu aberto localizado no ponto mais
alto da ilha. No lugar, é possível encontrar de tudo - de garrafinhas
plásticas a móveis e eletrodomésticos, como geladeiras e fogões.
PraiasUma
montanha de lixo já se forma em frente a um córrego localizado no topo
da ilha, onde vivem animais de várias espécies. “Até jacarés já foram
vistos por lá”, conta a presidente da Associação de Amigos e Moradores
de Boipeba (Amabo), Jussa Vasconcelos. Segundo ela, o córrego deságua no
Rio Ipiranga, cujos afluentes desembocam em praias da ilha. Como o
lixão fica no alto da ilha, os ambientalistas da região acreditam que
parte do lençol freático do local também esteja contaminada. Sem
saneamento, boa parte dos 4 mil habitantes da ilha ainda bebe água de
poços.
Turistas procuram a Península de Maraú pela beleza natural da região, uma das mais bonitas da BahiaAlgumas
iniciativas de educação ambiental e coleta seletiva de lixo com
cooperativas de catadores já são realizadas em Boipeba, com o apoio de
organizações não-governamentais, como a Pró-mar. Individualmente,
pousadas também reaproveitam o lixo orgânico para produzir adubo para
plantações. Mas a maior parte dos resíduos acaba sendo destinada ao
lixão, o que desestimula a população a selecionar o lixo.
SoluçõesHoje,
o problema dos lixões acomete cada uma das três ilhas que compõem o
arquipélago de Tinharé (Boipeba, Cairu e Tinharé - onde se localiza o
Morro de São Paulo). Para resolver a questão, a prefeitura de Cairu
pretende ampliar as iniciativas já existentes. “Queremos implementar a
coleta seletiva em toda a extensão das três ilhas, produzir adubo com o
lixo orgânico e revender parte do lixo para as indústrias”, disse o
prefeito de Cairu, Fernando Antônio (PMDB).
O prefeito pretende
começar por Morro de São Paulo, que recebe mais turistas e produz um
maior volume de lixo. “Em seis meses, pretendemos reduzir 40% do lixão
de lá, que será extinto em um ano”, prometeu. No entanto, as ilhas de
Boipeba e Cairu não deverão cumprir o prazo estabelecido pelo governo
federal, na sua Política Nacional de Resíduos Sólidos, de acabar com
todos os lixões do país em 2014. “A situação de Boipeba e de Cairu será
resolvida em cerca de dois anos”, previu.
Em Maraú, algumas
iniciativas também já estão sendo realizadas. Desde março deste ano, a
prefeitura começou a implementar um plano de educação ambiental e de
coleta seletiva em parceria com a sociedade civil. Cerca de 40% dos
resíduos despejados diariamente no lixão da península já estão sendo
selecionados por catadores e vendidos em Itabuna para reaproveitamento
de indústrias.
No lixão de Boipeba, no topo da ilha, é possível encontrar de tudo: desde objetos menores a geladeirasCerca
de dez catadores moram em barracos montados no entorno do lixão da
Península de Maraú. Ganham R$ 500 por mês para separar o lixo vendido.
“Isso ainda é muito pouco, mas espero que no futuro, quando tudo se
organizar melhor, a gente possa ganhar mais”, disse um deles, José
Júnior, de 22 anos.
Novo complexo hoteleiro construirá usinaO
município de Maraú vai aproveitar o interesse de um grupo português em
instalar um novo complexo hoteleiro na península nos próximos anos para
colocar em prática ações previstas no Plano de Gestão Integrada dos
Recursos Sólidos, plano que está a cargo da Conder e faz parte do
projeto nacional de acabar com os lixões do país. “Denominado Espaço 21,
esse empreendimento gerará emprego e renda para a região, mas, por
outro lado, será o maior produtor de lixo da península”, calcula o
secretário do Meio Ambiente de Maraú, Jorge Robson.
Em
compensação, o município exigiu uma contrapartida do grupo Américo
Amorim, responsável pelo empreendimento, para solucionar o problema do
lixão: a construção de uma usina de tratamento de resíduos sólidos. “A
empresa já se comprometeu a financiar a construção da usina, que ficará
pronta até 2015, junto com a infraestrutura de saneamento básico da
península”, afirmou Robson.
O secretário acrescentou, no
entanto, que a prefeitura ainda aguarda a apresentação de um projeto
final por parte da empresa. Na usina idealizada, todo o lixo captado em
coleta seletiva na península será tratado, processado e revendido às
indústrias.
O complexo hoteleiro incluirá um resort, quatro
hotéis (voltados respectivamente para as classes A, B, C e D), além de
cinco vilas de condomínios. Com um investimento previsto de US$ 678
milhões (cerca R$ 1,5 bilhão), o Espaço 21 deverá gerar 1,7 mil empregos
na região. As obras do complexo serão iniciadas em janeiro de 2014 e
ficarão prontas em 11 anos. A ideia da usina surgiu porque a avaliação
da Conder sobre a questão do lixo na ilha descartou a possibilidade da
implantação de aterro sanitário no local.
A ilha de Boipeba foi eleita a segunda melhor ilha da América do Sul pelo site TripAdvisor