Brasil adere à Plataforma Internacional de Informação sobre Biodiversidade
01/11/2012, por Karina Toledo
Agência FAPESP –
Após mais de uma década de mobilização e expectativa de sua comunidade
científica, o Brasil aderiu oficialmente à Plataforma Internacional de
Informação sobre Biodiversidade (GBIF, na sigla em inglês) – maior iniciativa multilateral para tornar acessíveis na internet dados sobre biodiversidade.
A
rede composta por 58 países e 46 organizações reúne informações sobre a
ocorrência de espécies vegetais, animais e de microrganismos
registradas em herbários, museus, coleções zoológicas e microbianas além
de sistemas com dados de observação.
O protocolo de entendimento foi assinado no dia 24 de outubro pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp.
A
iniciativa insere o país – que abriga 15% da biodiversidade do planeta –
em uma comunidade global que compartilha dados, informações,
ferramentas, competências e experiências relacionadas à gestão dos
recursos de informações biológicas.
“A
entrada do Brasil é um passo muito significativo para nós. Defendemos a
visão de um mundo em que a informação sobre a biodiversidade esteja
livremente e universalmente disponível para a ciência e para a
sociedade. Isso requer a participação do maior número possível de países
detentores de megadiversidade, como o Brasil”, disse Tim Hirsch,
responsável pela comunicação do GBIF, à Agência FAPESP.
Segundo
Hirsh, a adesão beneficiará também o Brasil. “Com dez anos de
experiência na construção de sistemas para gerenciamento de informação
sobre a biodiversidade, o GBIF oferece ferramentas, treinamento e
padrões para agilizar a digitalização, mobilização, descobrimento,
acesso e uso dos dados”, afirmou.
Para
Carlos Alfredo Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP, o acesso a
essas ferramentas é de fundamental importância para a ciência
brasileira. “Permitirá, por exemplo, trabalhar com cenários de mudanças
climáticas e as consequências disso na distribuição de espécies”, disse.
Além
disso, a adesão traz um novo status e maior visibilidade aos acervos de
museus, herbários e coleções brasileiras. “Essas informações passam a
estar disponíveis para qualquer pessoa interessada em fazer pesquisa
nessa área, não apenas a quem vai visitar as instituições”, disse.
Como
lembrou Joly, o Brasil participou ativamente das discussões para a
criação do GBIF, no fim dos anos 1990, e para a definição do modelo de
informatização e gerenciamento da rede de dados. “O BIOTA-FAPESP foi
criado na mesma época e todo o sistema de informação do programa foi
desenvolvido de forma a ser totalmente compatível e fácil de ser
integrado ao GBIF”, disse.
Atualmente,
há mais de 5 milhões de registros de amostras coletadas ou observadas
no Brasil – dos quais 2,3 milhões estão georreferenciados – disponíveis
on-line e aptos a serem imediatamente integrados ao banco de dados do
GBIF. As informações estão reunidas na rede speciesLink, que nasceu como um projeto do Programa BIOTA-FAPESP e hoje tem abrangência nacional.
“O
speciesLink foi criado para digitalizar e tornar disponíveis on-line os
acervos de 12 museus de zoologia e herbários do Estado de São Paulo”,
contou Joly.
Quando terminou o projeto, apoiado
pela FAPESP, a iniciativa continuou com apoio do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação(MCTI) e também com financiamento internacional.
“Hoje,
a plataforma reúne 285 coleções e subcoleções de todos os Estados
brasileiros, com exceção do Amapá”, disse Dora Canhos, pesquisadora do
Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), que gerencia o
sistema de informação.
Mas
ainda há muito trabalho a ser feito, acrescentou Canhos. “Se
reuníssemos todas as coleções brasileiras em um único museu, estima-se
que teríamos mais de 30 milhões de registros. Hoje apenas 5 milhões
estão digitalizados e disponíveis on-line”, disse.
Embora
o Brasil ainda não fosse oficialmente membro do GBIF, mais de 1,6
milhão de registros relativos à biodiversidade nacional já estavam
acessíveis na rede global, provenientes de mais de 700 bancos de dados
mantidos em 28 países.
Nos
últimos três anos, segundo divulgou a rede global, pelo menos 18
trabalhos de pesquisas de autores brasileiros citaram o uso de dados
mediados pela plataforma GBIF. No mundo, em média, cerca de quatro
artigos revisados por pares são publicados a cada semana com dados
acessados pela rede GBIF.
Sistema brasileiro
A
diretora de Políticas e Programas Temáticos do MCTI, Mercedes
Bustamante, ressaltou que a adesão ao GBIF ocorre no momento em que o
Brasil está estruturando seu próprio sistema nacional de informação
sobre a biodiversidade.
Denominada Sistema de Informações para a Biodiversidade e Ecossistemas Brasileiros (SIB-BR),
a iniciativa é conduzida pelo MCTI em parceria com o Fundo Global para o
Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) e envolve investimento de US$
28 milhões.
“A
experiência do GBIF pode servir de modelo para a rede brasileira, pois
não se trata simplesmente de um banco de dados, mas de uma plataforma
que permite, por exemplo, usar ferramentas para análise das informações
ali contidas”, disse Bustamante.
Um
dos objetivos do SIB-BR, acrescentou a diretora do MCTI, é fazer com
que as informações sobre biodiversidade já sistematizadas sejam
incorporadas ao processo de tomada de decisões e formulação de políticas
públicas.
“A
ideia é que o SIB-BR não substitua sistemas já existentes, como a rede
specieslink. Trata-se de uma plataforma agregadora, que vai incorporar
as informações já digitalizadas. As instituições que não têm condições
de manter seus próprios bancos de informação poderão fazer isso por meio
do sistema nacional”, afirmou.
Participante associado
O
Brasil ingressa, inicialmente, como associado ao GBIF. Embora possa
participar plenamente na publicação de dados e projetos de capacitação,
não contribui financeiramente e não possui direito de voto no Conselho
de Administração.
A
partir da assinatura do protocolo de entendimento, o país se
comprometeu a se movimentar para a participação votante em um prazo de
cinco anos.
Na
América Latina, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México,
Nicarágua, Peru e Uruguai já integram o GBIF. A rede foi fundada por um
grupo de países em 2001 – com sede em Copenhague, na Dinamarca –, após
recomendação do fórum de megaciência, hoje denominado Fórum de Ciência
Global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE).
Atualmente,
o GBIF concentra mais de 388 milhões de registros, de mais de 10 mil
bancos de dados provenientes de 422 instituições.
Fonte: http://agencia.fapesp.