Colégio de tempo integral muda a vida de jovens em Igrapiúna
Thiago Santana (à esquerda) cursa o 2o
ano de agroecologia e repassa à comunidade
técnicas de agricultura e sustentabilidade, aprendizado que o diretor da
escola, Ademário Reis, afirma fazer parte do cotidiano dos alunos
Luíza
torres
redação I secom
Para muitos jovens que moram
no interior, a vida não é fácil. A maioria se sente obrigada a
abandonar os estudos para ajudar no sustento da família. Mas em
Igrapiúna, no baixo sul baiano, essa história começa a mudar. No
município, o futuro é cultivado em sala de aula.
Os moradores de Igrapiúna
não esperavam muito da vida profissional no município, que apresenta um
dos menores índices de desenvolvimento humano (IDH) do estado – 0,601.
Com a implantação do Colégio Estadual Casa Jovem II, as oportunidades
começaram a surgir. Na unidade, de tempo integral, são oferecidas aulas
de informática, rádio, capoeira, futebol, teatro e dança.
A escola faz parte da rede de
ensino ligada ao Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com
Sustentabilidade do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul
da Bahia (PDCIS), criado pela Fundação Odebrecht em parceria com o
Governo da Bahia.
Oportunidade – "Amo
estudar aqui. Nessa escola, tenho muitas oportunidades e estou
aproveitando todas. Agradeço a Deus por esse espaço, pois não são
todos os jovens que têm essa oportunidade", diz a estudante do 2º
ano do ensino médio Juliana Jesus Santos. Ela é uma das alunas de teatro
e garante se dedicar ao curso. "Amo teatro. Descobri minha capacidade
de interpretar aqui na escola e quero dar continuidade a esse projeto
mesmo depois que completar o ensino médio."
O motivo para o orgulho dos
381 alunos está nas oportunidades oferecidas pelo colégio, onde os
estudantes têm chance de sair com uma profissão. No curso técnico de
agroecologia, os alunos do ensino médio aperfeiçoam o que já aprenderam
com os pais na roça.
Clones de cacau – O colégio
fica na Fazenda Vale do Juliana, da Fundação Odebrecht, onde as aulas
práticas são realizadas. No local, os alunos aprendem técnicas de
produção de sementes e mudas e até a fazer clones de cacau.
Com a formação adquirida na
escola, os alunos ajudam a melhorar a qualidade dos produtos desenvolvidos
pela comunidade e já saem preparados para o mercado de trabalho. Os
estudantes de agroecologia fazem estágios na Fazenda Juliana e a maior
parte dos 299 formados, entre 2009 e 2011, trabalha no local. Os outros
fazem consultoria particular para pequenos e médios produtores da
região.
Trabalho social é
desenvolvido na comunidade
Aluno do 2o
ano do curso técnico de agroecologia Thiago Santana também sonha alto e
já faz planos para o futuro – quer fazer faculdade de agronomia para
continuar trabalhando no campo. Mas, antes mesmo de completar o ensino
médio, Thiago, junto com os colegas de sala, realiza trabalho social na
comunidade onde mora. Ele ensina as técnicas de agricultura e
sustentabilidade que aprendeu em sala de aula para os pequenos
agricultores.
"Eles (agricultores) não
sabem como alinhar agricultura a proteção ambiental. O nosso papel é
passar isso para eles, além de ensinar técnicas de plantação e
cultivo. Na nossa atividade, precisamos de um meio ambiente saudável. Por
isso, devemos nos preocupar também com a sustentabilidade. Ensinamos à
comunidade a não usar agrotóxicos, não queimar o lixo ou enterrar,
porque isso causa vários problemas ao solo e nascentes", ensina
Thiago. A consultoria não se restringe aos vizinhos e amigos. Em casa, o
estudante já desenvolveu técnicas para melhorar a qualidade da
plantação e aumentar a produção.
O diretor do colégio,
Ademário Reis, explica que a consultoria à comunidade faz parte do
currículo do curso técnico. De acordo com ele, o aprendizado escolar
sempre está alinhado ao cotidiano do aluno. "Os professores estão
sempre muito atentos quanto aos conhecimentos do seu dia a dia no campo
que podem ser utilizados em sala de aula."
Cursos de cozinheira e de
panificação
Maria Lúcia Santos fez curso profissionalizante e hoje
trabalha na própria unidade atendendo a funcionários, professores e
estudantes
A comunidade também é
beneficiada com a realização de cursos profissionalizantes – de
cozinheira e panificação, entre outros – resultado de parceria com o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Formados, muitos
alunos dessas capacitações passaram a trabalhar no colégio.
Um exemplo é a cozinheira
Maria Lúcia Santos, que trabalha na unidade desde a fundação, em 2005.
Hoje, ela cozinha para os alunos, professores e funcionários que ficam no
colégio durante todo o dia. "Na região, era muito difícil arranjar
emprego e eu estava desempregada. Quando soube do curso, fiz
imediatamente. Foi isso que garantiu o meu emprego", diz Maria
Lúcia.
Outro morador que aproveitou
as oportunidades oferecidas é o agora padeiro Hélio Santos Silva, 20
anos. Entre a preparação de uma massa e outra, ele diz o quanto sua vida
melhorou. "O curso facilitou muito meu acesso ao mercado de trabalho.
Aqui não tinha nada pra fazer. Essa escola mudou muito a minha
vida."
Outra iniciativa é a parceria
do colégio e o Exército, promovendo instrução militar aos jovens, que
vão servir à instituição. Com isso, eles podem desenvolver as
atividades sem precisar mudar de cidade.
Referência em gestão educacional
Em 2010, o Colégio Estadual
Casa Jovem II foi eleito Escola Referência em Gestão Escolar –
Destaque Brasil pelo Conselho Nacional de Secretários da Educação
(Consed). No ano passado, mais uma vez, a unidade foi reconhecida pelo
trabalho desenvolvido, conquistando o 12º Prêmio Escola
Voluntária, desenvolvido pela Fundação Itaú Social e pelo Grupo
Bandeirantes de Comunicação. A premiação foi conferida por
apresentações teatrais e de poesia para a comunidade.
Os temas ajudam na
conscientização sobre sustentabilidade e outros aspectos de interesse
dos moradores de Igrapiúna.
Redução do índice de
evasão escolar
O colégio, que já recebeu
três prêmios nacionais, também oferece aos alunos biblioteca, sala de
leitura, radioescola e quadra poliesportiva. Todo esse aprendizado
diferenciado, além da parceria com a comunidade, motiva os alunos a
permanecerem na unidade por mais tempo. O resultado é a redução no
índice de evasão escolar.
Para o diretor, Ademário
Reis, a escola combate a evasão escolar por meio da valorização do
campo. "Quando o estudante percebe que o colégio trata de sua
realidade de forma positiva, trata de sua identidade como cidadão do
campo, ele fica mais tempo na escola. Fazemos o possível para que nossos
alunos permaneçam na sala de aula."