GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL A VARSÓVIA
Contrariando a maior parte das expectativas, a 19ª Conferência Mundial
do Clima, em Varsóvia, com um resultado
prático: o estabelecimento de regras para o pagamento pela proteção de
florestas, o chamado Redd+ (Redução de Emissões por Desmatamento).
Os países chegaram a um consenso sobre a origem do dinheiro, a
metodologia para avaliar o resultado e as ferramentas para aumentar a
transparência dos dados sobre a conservação. Agora, dizem os países, o
Redd+ tem tudo para decolar.
"Estou orgulhoso dessa conquista concreta", disse o presidente da COP-19, o polonês Marcin Korolec.
A falta de consenso no assunto era antiga, com interesses conflitantes
entre países ricos e pobres e entre as nações a serem beneficiadas.
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Kacper Pempel/Reuters |
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Ativistas fantasiados de François
Hollande, presidente da França; o primeiro-ministro do Japão, Shinzo
Abe; Barack Obama e a chanceler alemã, Angela Merkel "buscam" o rumo da
segurança climática |
Foram mais de sete anos até se chegar ao acordo, que foi
aprovado em uma plenária cheia de discursos otimistas e encerrada com
uma salva de palmas.
As propostas aprovadas estão bem próximas daquilo que o governo brasileiro havia anunciado como os objetivos do país.
A origem dos recursos era um dos grandes freios das discussões. Foi
acertado que os projetos de redução de emissões por desmatamento poderão
usar diversos tipos de capitalização, mas o Fundo Verde do Clima
--criado na COP de 2010 para servir como canal de financiamento-- deverá
ter um "papel-chave" nesse processo.
Segundo os negociadores brasileiros, a definição do Fundo Verde do Clima
como um dos pilares do Redd+ garante a "continuidade dos recursos
destinados aos projetos de conservação".
A capitalização para o fundo só começa em 2014, mas o Redd+ já conseguiu
recursos significativos. Os governos dos EUA, da Noruega e do Reino
Unido anunciaram um pacote de US$ 280 milhões para projetos de
conservação.
Os países também concordaram que as nações que queiram receber recursos
pelo mecanismo devem atender recursos mínimos de transparência e de
rastreabilidade dos resultados de suas ações.
Ficou decidido que os países terão de usar referenciamento por satélite para provar os resultados.
Além disso, os mecanismos de monitoramento também deverão ser submetidos a um painel internacional, que precisará referendá-lo.
VENDA, NÃO
A polêmica sobre o chamado "offsetting" --um país poder "comprar" a
redução de emissões causada pelas ações de preservação de um outro-- foi
empurrada para frente.
O texto não prevê que o carbono não emitido pelo desmatamento possa ser
comercializado. Mas, como também não há proibição explícita, é possível
que a venda seja autorizada em negociações futuras sobre os mecanismos
de mercado da convenção da ONU.
EUA e outros países desenvolvidos querem poder comprar esses créditos.
Isso permitiria que, se eles não conseguissem cumprir metas de redução
de emissões, poderiam compensar comprando créditos de emissões evitadas
pela proteção de florestas em outros países.
A delegação brasileira é contra essa ideia. "Isso só faria com que os
países ricos ficassem menos comprometidos em reduzir suas emissões. Em
vez de evitarem por conta própria, comprariam os esforços de outros
países."
O MECANISMO
O Redd+ (Redução de Emissões por Desmatamento) é um mecanismo de
compensação financeira pela conservação de florestas. Apesar de já ter
sido usado de maneira informal em projetos de conservação florestal para
compensar emissões de carbono, ainda não tinha uma regulamentação
aceita entre todos os países.
O QUE FALTAVA?
Faltavam regras estabelecidas entre todos os países que unificassem o
que é permitido dentro do mecanismo Redd+ e que permitissem que as
nações ricas financiassem a manutenção de mata em pé pelos países em
desenvolvimento com florestas dentro de seus territórios
O QUE FOI ACERTADO
As compensações financeiras em retribuição à conservação de florestas
serão coordenadas em grande parte pelo Fundo Verde do Clima
O pagamento será feito de acordo com resultados de conservação de cada país, que devem ser comprovados com dados de satélite
A princípio, os países ricos não poderão usar o financiamento dado aos
países em desenvolvimento para compensar emissões de poluentes que
superem suas metas, mas essa possibilidade está em aberto
A jornalista GIULIANA MIRANDA viajou a convite da Deutsche Welle Akademie
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