A Diretiva, baseada na avaliação e gestão do ruído ambiental, estabelece
diferentes fases de implantação. A partir disso, de acordo com a
legislação, as cidades européias tiveram de fazer seus mapeamentos
sonoros desde 2007, adotando também planos de ação para combater a Poluição sonora, desde 2008, com fases de atualização e revisão a cada cinco anos.
Em breve, a Diretiva deve formatar ainda um sistema europeu padronizado
(Cnossos-UE) relativo a indicadores e métodos estimativos de níveis de
ruído em cidades e produzidos por estradas, ferrovias, aeroportos e
indústria. Numa terceira fase (que dura até 2017) esses métodos serão
utilizados para desenvolver mapas estratégicos de ruído. A experiência
adquirida, ao longo dos anos, deverá aperfeiçoar o processo de
elaboração dos mapas de ruído e os procedimentos para a apresentação dos
resultados.
Os mapas estratégicos servem para embasar os planos diretores das
cidades, no que diz respeito aos impactos de ruídos dos sistemas de
transportes nas edificações, avaliar o percentual de pessoas atingidas
para cada faixa de nível de ruído e estabelecer metas prioritárias para
ações de controle da Poluição sonora. São instrumentos que facilitam o planejamento de novas áreas e as correções de Poluição sonora em áreas existentes.
Estão sendo elaborados na Europa também os mapas de sensibilidade ao
ruído, que definem basicamente zonas em áreas urbanizadas, levando em
conta características como densidade demográfica, hospitais, escolas e
perfis de adensamento. A partir daí serão criados os mapas de conflito,
decorrentes da superposição entre os mapas estratégicos e os de
sensibilidade, proporcionando uma ferramenta eficaz para a gestão e
controle da Poluição sonora das cidades.
Já é hora de o Brasil se espelhar no modelo europeu, que une governos,
ministérios, entidades de preservação ambiental, universidades, a
Associação Européia de Acústica, profissionais, consultores, fabricantes
e outras entidades ligadas à acústica. Este modelo tem sido seguido
também em diversos países da Ásia. Na América Latina, cidades como
Santiago do Chile, Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina) e Quito
(Equador) estão elaborando seus mapas de ruído, reconhecendo as
vantagens desses métodos. Aqui, as únicas cidades que elaboraram
mapeamentos sonoros, apenas parciais, foram Belém (PA) e Fortaleza (CE).
Há alguns anos a OMS vem advertindo que a Poluição
sonora nos grandes centros urbanos é problema de saúde pública, pois já
se constataram diversas doenças decorrentes da exposição das populações
ao ruído urbano, principalmente o ruído de tráfego rodoviário, que se
transformou num grande “vilão”, ocasionando doenças cardíacas, do
aparelho digestivo e do sistema nervoso. É imperioso fazer tal alerta,
pois o ruído é um agente nocivo que causa danos irreversíveis à saúde e
que “mata silenciosamente”.
Mas não podemos ficar a reboque desse processo, pois diariamente lemos
em todos os jornais das grandes cidades brasileiras reclamações da
população referentes a ruídos, sejam ligados a transportes, a bares,
baladas, som automotivo e pancadões. Viver nas cidades com qualidade de
vida implica em combater problemas de trânsito, mobilidade, e
principalmente ruídos, pois estes interferem diretamente na
produtividade, aprendizado e na saúde física e mental dos habitantes. O
ruído na comunidade é um dos principais indicadores de qualidade de vida
percebida pelo cidadão.
Com os mapeamentos estratégicos de ruídos, é possível avaliar as
populações afetadas, criar estatísticas e elaborar planos de ação,
estudando a fundo, por meio de softwares sofisticados, os impactos
causados pela Poluição
sonora. E dessa maneira promover ações para gestão e redução desses
impactos. Esses mapas são instrumentos muito mais poderosos do que
medições avulsas. E se tornam mais econômicos para os técnicos, fiscais
municipais e consultores que necessitam planejar o espaço urbano, ou
corrigir problemas de Poluição sonora.
Davi Akkerman
Presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica).
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