Falta de ar-condicionado, fachada deteriorada, gambiarras, rachaduras em paredes e pisos. São alguns dos problemas estruturais por que passa a centenária sede da Biblioteca Nacional, no centro do Rio, e que constam de manifestos públicos de funcionários. A direção está com uma série de projetos de restauração e reequipamento em andamento, mas isso não diminui a apreensão de quem trabalha num dos únicos edifícios históricos da Cinelândia que ainda não passaram por reforma.
"É um prédio de cem anos sem manutenção. Trabalho desde 1982 e nunca vi uma obra estrutural; só estética, e no início dos anos 90", conta o chefe da divisão de obras gerais, Rutonio Sant'Anna, que foi presidente da associação de servidores por seis mandatos. "As estantes de metal dão choque. É tudo cheio de gambiarra, benjamim... Muito perigoso. Acima de tudo, está a vida das pessoas e o patrimônio do País."
Maior da América Latina, a instituição, federal, criada há 200 anos por D. João VI com uma parte do acervo da família real trazido de Portugal, é considerada pela Unesco uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo. O edifício, tombado, guarda nove milhões de itens e recebe cópias de todos os jornais e livros publicados no Brasil (são 100 mil volumes por ano), sendo muito procurada por estudantes e pesquisadores.
A aparente fragilidade é interna e externa: um pedaço de ornamento da fachada despencou na calçada; em seguida, foi colocado um tapume para evitar que pedestres se machucassem. Em protesto há uma semana, funcionários reiteraram alerta feito em ofício de março à presidência da BN, solicitando "providências urgentes para problemas que vêm de décadas".
Os pontos destacados no documento já eram conhecidos pelo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, que assumiu há um ano e meio, com a nova gestão do Ministério da Cultura, e deu início a um amplo levantamento das condições do prédio. "Não negamos nenhum desses problemas. Começamos a fazer o diagnóstico e no meio do caminho as crises foram aparecendo, como o caso do vazamento", esclarece Loana Maria, sua diretora executiva.
"Temos previsão de obras para dez anos. As leis dão lentidão ao processo. Só o projeto para a reforma da parte elétrica vai levar seis meses para ficar pronto. A gente queria era uma obra como a do Teatro Municipal (em frente, também centenário e inteiramente reformado por um ano e meio com recursos majoritariamente de patrocinadores privados), em que se fez de tudo."
A prioridade foi a instalação do sistema de detecção de incêndio, ligado este mês. Parte do sistema de ar-condicionado deverá será recuperada em 90 dias. Substituição completa, ao custo de R$ 1,5 milhão, só ano que vem: a previsão é que o edital de contratação saia até o fim do ano. A lista completa de intervenções elaborada pela direção tem 15 itens.