11 de agosto de 2012



Folha.com
07/08/2012 - 11h40

Calor extremo está se disseminando pelo planeta, diz estudo

DO "NEW YORK TIMES"
O percentual da superfície terrestre atingido por temperaturas muito elevadas no verão aumentou nas últimas décadas, subindo de 1% nos anos anteriores a 1980 a até 13% nos anos recentes, segundo um novo trabalho científico.
A mudança é tão drástica, diz o estudo, que os cientistas podem dizer quase que com certeza que os eventos como a onda de calor no Texas no ano passado, a da Rússia em 2010 e a da Europa em 2003 não teriam acontecido sem o aquecimento global causado pelas emissões de gases-estufa causadas pelo homem.

Tony Gutierrez/Associated Press
Polcial do Texas anda em leito de lago seco em San Angelo, em agosto de 2011, durante seca recorde
Polcial do Texas anda em leito de lago seco em San Angelo, em agosto de 2011, durante seca recorde

Mikhail Voskresensky /Reuters
Homem senta no chão enquanto chamas consomem casa em Vyksa, na Rússia, na onda de calor extremo em 2010
Homem no chão enquanto chamas consomem casa em Vyksa, na Rússia, na onda de calor extremo em 2010
Essas alegações, que vão além do consenso científico sobre o papel das mudanças climáticas como causa de eventos metereológicos extremos, foram feitas por James Hansen, estudioso do clima da Nasa, e dois coautores em um estudo publicado na revista "PNAS" ("Proceedings of the National Academy of Sciences").
"O mais importante é olhar as estatísticas e ver que a mudança é grande demais para ser natural", afirmou Hansen em entrevista.
Os resultados provocaram uma divisão imediata entre seus colegas cientistas.
Alguns especialistas dizem que ele descobriu um jeito inteligente de entender a magnitude dos eventos climáticos extremos que as pessoas têm notado ao redor do mundo. Outros sugerem que Hansen apresentou argumentos estatísticos fracos para dar suporte a suas alegações e que o estudo tem poucas informações novas.
A divisão é característica das reações fortes que Hansen tem causado no debate sobre as mudanças climáticas.
Como líder do Instituto Goddard de Estudos Espaciais em Manhattan, ele é um dos principais cientistas de clima da Nasa e guarda seus registros da temperatura terrestre ao longo dos anos. Mas ele também se tornou um ativista que marcha em protestos para pedir novas políticas de governo quanto à energia e ao clima.
O lado ativista de Hansen, que já causou sua prisão em quatro protestos, tornou-o um herói da esquerda americana. Mas também causou desconfiança entre seus colegas cientistas, que temem que suas atividades políticas estejam colocando em dúvida seus achados sobre a ciência climática.
Os chamados céticos do clima acusam Hansen de manipular os registros de temperatura para fazer o aquecimento global parecer mais severo, mas não há provas de que ele tenha feito isso.
Há tempos os cientistas creem que o aquecimento da Terra no último século, especialmente após 1980, tenha sido causado pela queima de combustíveis fósseis. Mas ainda não há certeza sobre se é possível atribuir a essa ação humana a ocorrência de eventos extremos como ondas de calor ou tempestades.
No novo estudo, Hansen compara o clima de 1951 a 1980, antes do "grosso" do aquecimento global, com os anos de 1981 a 2011.
Ele e sua equipe calcularam quanto da superfície terrestre em cada período foi submetida em junho, julho e agosto (verão no hemisfério norte) a climas extremos. Entre 1951 e 1980, só 0,2% da Terra foi atingido por calor extremo no verão. Mas de 2006 a 2011, o calor extremo cobriu de 4% a 13% do mundo.
"Isso confirma as suspeitas das pessoas de que coisas estão acontecendo com o clima. Só vai piorar", disse Hansen.
Os achados levaram a equipe dele a dizer que as ondas de calor e a seca dos últimos anos são consequência direta da mudança climática. Os autores não deram provas cabais desse processo, mas sim um argumento circunstancial de que só aquecimento pode ser a causa desses eventos extremos.
Andrew Weaver, cientistas do clima na Universidade de Victoria, no Canadá, comparou o aquecimento recente a surtos de sarampo pipocando em lugares diferentes. Como com a epidemia, disse ele, faz sentido suspeitar de uma causa comum.
Outros cientistas não concordam. Claudia Tebaldi, da organização Climate Central, diz que os achados do trabalho não são novos e que a atribuição de ondas de calor específicas ao aquecimento global não tem base sólida.
Martin Hoerling, pesquisador no National Oceanic and Atmospheric Administration dos EUA, diz que compartilha a preocupação de Hansen mas que ele está exagerando a conexão entre o aquecimento global e eventos específicos.
Hoerling publicou um estudo sugerindo que a onda de calor russa de 2010 foi consequência de variações naturais do clima. Em um novo artigo, ele diz que a seca no Texas em 2011 também teve causas naturais.
O pesquisador diz que o trabalho de Hansen confunde seca, causada por falta de chuva, com ondas de calor. "Este não é um trabalho científico sério. É uma percepção, como diz o título do artigo. Percepção não é ciência."

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