12 de janeiro de 2014

GLICERINA -Para além dos sabonetes

Processo mais simples e barato permitirá maior reaproveitamento da glicerina resultante da produção de biodiesel. Atualmente, apenas 12,5% desse resíduo são reutilizados e seu descarte pode provocar sérios impactos ambientais. 
 
Por: Camille Dornelles

Publicado em 02/01/2014 | Atualizado em 02/01/2014
 
Para além dos sabonetes
A glicerina pura tem aplicações bastante conhecidas, como sabonetes decorativos, mas seu caro processo de purificação dificulta o reaproveitamento do material descartado na produção de biodiesel. (foto: Cecília Mendonça/ Flickr – CC BY-SA 2.0) 
 
Desde que começou a ser produzido, o biodiesel é apontado como alternativa sustentável aos combustíveis fósseis. Agora pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) prometem diminuir ainda mais o impacto ambiental dessa fonte de energia, ao criar um processo mais simples e barato para reaproveitar a glicerina gerada e descartada durante a produção do biocombustível.

O coordenador do projeto, o químico ambiental Luiz Carlos de Oliveira, do Departamento de Química da UFMG, explica que quase toda a glicerina resultante da geração de biodiesel é descartada. “A produção brasileira anual de biodiesel, que, segundo estimativas da ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis], é de 176 milhões de litros, gera 80 milhões de litros de glicerina; e menos de um oitavo disso é reaproveitado”, lamenta.

Em contato com rios e lagoas, a glicerina pode prejudicar a vida de animais e plantas
 
Esse grande desperdício ocorre porque a glicerina deve ser purificada antes de ser reutilizada. “O processo de purificação – feito por destilação a vácuo – é muito caro e de difícil operação, o que faz com que seja pouco usado”, esclarece Oliveira.

Por ser um álcool, a glicerina tem pH muito baixo e, em contato com rios e lagoas, pode aumentar a acidez do meio e prejudicar a vida de animais e plantas. Ao mesmo tempo, possui muita matéria orgânica, que pode causar o crescimento excessivo de vegetação nesses locais.

O processo criado por Oliveira transforma a glicerina residual do biodiesel em ácido fórmico, que poderá ser usado pela indústria petroquímica para a produção de plásticos ou pela indústria do curtume no preparo de couro. Até hoje o Brasil não produz ácido fórmico e importa a maior parte do produto da China.

Quebrando para construir

Para transformar a glicerina em ácido fórmico, o químico usou um composto à base do minério nióbio para quebrar suas moléculas. “A glicerina é composta de três carbonos unidos. Quando entra em contato com o nióbio, que tem ação oxidante, separa-se e forma três moléculas de ácido fórmico”, explica.
Artigos de couro
O ácido fórmico resultante da transformação da glicerina poderá ser usado no preparo de artigos de couro pela indústria de curtume, entre outras aplicações. (foto: Flickr/ kirandulo – CC BY 2.0)
Oliveira revela que a escolha pelo nióbio se deu pela abundância desse minério em território nacional: “Noventa e cinco por cento do nióbio existente no mundo está em Minas Gerais. Precisamos aproveitar nossas jazidas”, diz.

Apesar das vantagens do novo método, o pesquisador afirma que ele não irá substituir a destilação a vácuo. “Na destilação, obtém-se glicerina pura, que vai ser usada pela indústria farmacêutica na fabricação de cosméticos e sabonetes.”

A pesquisa, que começou em 2011, já passou pelos testes de bancada – em que se constatou que o nióbio transformava a glicerina residual em ácido fórmico – e agora está em processo de simulação de produção industrial. “Queremos saber se a reação pode ocorrer em larga escala, em quanto tempo e quanto seria gasto”, conta Oliveira.

A etapa seguinte será um estudo de mercado para a construção de um polo industrial de reaproveitamento de glicerina. A equipe pretende entregar, até agosto de 2014, os dados do estudo para que a Petrobras analise a possibilidade de investimento. “Como é uma técnica inovadora, sustentável e que aproveita recursos nacionais, acredito que não vai demorar muito para ser empregada”, torce o pesquisador.

Camille Dornelles
Ciência Hoje On-line

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