3 de junho de 2012

Brasil ganha nova embarcação para pesquisa marinha

Ciência
Oceanografia

Inaugurado nesta quarta-feira no porto de Santos, Alpha Crucis pode atravessar o Atlântico e realizar pesquisas sobre o clima

Por Marco Túlio Pires, de Santos
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e Universidade de São Paulo (USP) apresentam o novo navio oceanográfico brasileiro Alpha Crucis
O Alpha Crucis foi inaugurado nesta quarta-feira no Porto de Santos (Ivan Pacheco)
Foi inaugurada nesta quarta-feira, no Porto de Santos, a embarcação Alpha Crucis, um investimento de 11 milhões de dólares da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Universidade de São Paulo (USP). É o segundo navio à disposição da pesquisa marinha brasileira - o outro membro da "esquadra" é o Atlântico Sul, barco oceanográfico da Universidade Federal do Rio Grande.
O Alpha Crucis substitui o navio Prof. W. Besnard, usado desde o fim da década de 1970 pela comunidade científica e que estava praticamente inutilizado desde 2008 por causa de um incêndio. Com 64 metros de comprimento e 11 de largura, a nova embarcação aumenta consideravelmente a autonomia dos pesquisadores brasileiros em alto mar.

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ALPHA CRUCIS Alpha Crucis, ou Acrux, é a estrela mais brilhante da constelação do Cruzeiro do Sul. Na bandeira do Brasil, ela representa o estado de São Paulo. O astro também é chamado de Estrela de Magalhães, homenagem ao navegante português Fernão de Magalhães, o primeiro navegador a realizar a circum-navegação da Terra. A estrela está a 321 anos-luz do Sistema Solar.
"Os cientistas poderão ficar até 70 dias navegando", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp. Com o W. Besnard, o tempo máximo era de 15 dias. “Isso quer dizer que será possível realizar expedições à África”, diz Michel Michaelovitch, diretor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP. A capacidade de pesquisadores a bordo também aumentou. Antes apenas 15 podiam sair em expedições, agora até 23 podem navegar - além dos 18 tripulantes.
Recauchutada - O novo barco é na verdade um antigo navio que era usado pela Universidade do Havaí, nos EUA, desde a década de 1970. “Apesar do tempo de uso, a embarcação foi muito bem conservada”, garante Michaelovitch. O casco em excelente estado precisou apenas receber novos equipamentos, “que não perdem em nada para os melhores do mundo”, diz o diretor do IO. 
A Fapesp desembolsou 4 milhões de dólares pela compra do casco e dividiu com a USP a 'recauchutada' (3 milhões de dólares na conta da fundação e 4 milhões de dólares desembolsados pela universidade). Parece muito dinheiro, mas foi uma pechincha, de acordo com Brito Cruz. "O navio teria custado pelo menos 35 milhões de dólares se tivéssemos construído do zero", diz.
Equipamentos - Os novos equipamentos do Alpha Crucis atenderão necessidades de pesquisas em biodiversidade e mudanças climáticas. A embarcação tem dois motores e um sistema que permite que ela fique parada em alto mar, independente do movimento da corrente marinha. “Essa característica é fundamental para pesquisas oceânicas”, diz Michaelovitch. Uma sonda fará o levantamento do relevo do fundo do oceano, dois sistemas acústicos medirão correntes marinhas e uma estação meteorológica completa fará a analise do clima em qualquer lugar que a embarcação esteja. Viagem inaugural - Frederico Brandini, professor do IO, fará a viagem científica inaugural do Alpha Crucis, no fim de julho, para mapear o ciclo do carbono na costa brasileira, junto com uma equipe de 20 pesquisadores. Ele viajou no W. Besnard - e em várias embarcações ao redor do mundo. Brinca que o antigo navio era um carro popular. "Agora temos um jipe, 'semi-novo', mas muito bem equipado". Com uma costa tão grande, o país precisará de muitos 'jipes' bem equipados como esse. "Se quisermos realmente lançar a ciência brasileira ao mar, precisaremos de pelo menos oito embarcações como essa", avalia Michaelovitch.
Mérito científico - Apesar de a embarcação ter sido comprada pela Fapesp e pela USP, o diretor do IO garante que qualquer pesquisador do Brasil poderá pleitear tempo no Alpha Crucis. "Diretamente, cerca de 500 pesquisadores serão beneficiados, basta que os pedidos tenham mérito científico", explica. Além disso, cada instituição precisará arcar com os custos de viagem, que podem chegar a 20.000 reais por dia. Isso inclui gastos com alimentação, tripulação, energia e transformação de água salgada em água potável, algo em torno de 10.000 litros diários.

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