22 de abril de 2012

Florestas energéticas podem contribuir para preservar a Caatinga

Marcelino Ribeiro
Florestas energéticas podem contribuir para preservar  a Caatinga
Como solução, não pode ser considerada definitiva, mas o plantio de eucaliptos é uma alternativa para diminuir a pressão sobre a caatinga para a retirada de lenha que abastece os fornos das industrias gesseiras na Chapada do Araripe. O rápido crescimento, a uniformidade da lenha e o rendimento energético dessa espécie exótica podem reduzir em 2,6 vezes a demanda por madeira da vegetação nativa.
A produtividade (100 m3.ha-1) alcançada por dois híbridos de eucalipto submetidos a 5 anos de testes experimentais garante, com o plantio de apenas 8,1 ha.dia-1, a quantidade de madeira necessária para atender a demanda energética da região – incluindo as mais de 100 indústrias gesseiras: 5.250 mst.dia-1. No atual modelo de exploração intensiva, para suprir essa demanda é preciso por abaixo nada menos que 21 ha da vegetação nativa.
“Isto livraria pelo menos 13 ha.dia-1 da caatinga do desmatamento indiscriminado”, garante o pesquisador Marcos Drumond, da Embrapa Semiárido.
Devastação - Com este resultado, ele considera adequado recorrer ao plantio de eucalipto nos locais onde a Caatinga já está intensamente degradada.
“Não indicamos de forma alguma o corte da mata nativa para implantar floresta energética. Mas na situação em que se encontra a Chapada, o cultivo do eucalipto em algumas áreas ajuda a conter o desmatamento e preservar a vegetação nativa”.
A Chapada do Araripe se estende por mais de 76 mil km2 dos estados Ceará, Piauí e Pernambuco. Este último abriga em seu subsolo a maior reserva de gipsita em exploração do Brasil. É a maior área de produção da América Latina, a segunda do mundo, e abastece 95% do mercado nacional.
A exploração dessa riqueza já acarretou o corte de mais de 65% de toda a vegetação na área da Chapada. A lenha abastece os fornos que fazem a desidratação do minério (gipsita).
Drumond destaca do eucalipto não apenas suas qualidades energéticas. Segundo ele, nas condições do plantio realizado no Campo Experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), na Serra do Araripe, as plantas alcançam o ponto de corte já no quarto ano.
Este rápido ciclo de produção é outro aspecto relevante para apoiar a implantação de cultivos comerciais de eucalipto no Araripe. “Não se trata de sair estimulando o plantio por toda a área da Chapada de forma indiscriminada. O que se recomenda é o cultivo apenas nas áreas onde a caatinga está devastada de forma intensa”, explica o pesquisador.
Ele acredita que o plantio de eucalipto pode ainda ajudar a consolidar as atuais experiências de manejo florestal por parte de alguns empresários da região.
Em geral, elas funcionam com um ciclo de rotação dos cortes que variam de 13 a 15 anos. Assim, vão se alternando as áreas de corte até a caatinga recuperar sua capacidade de estoque médio de lenha situado entre 160 e 200 mst.ha-1, respectivamente.
Marcos também ressalta que os resultados das pesquisas realizadas pelos especialistas da Embrapa Semiárido, IPA e Universidade Federal Rural de Pernambuco, são mais promissores que o previsto no planejamento de projetos de formação de floresta energética no Brasil e que envolve o plantio de espécies de rápido crescimento.
Nestes projetos, os cortes são previstos só a partir do sexto ano, e com previsão de um incremento médio anual (IMA) entre 30 m3/ha.ano-1 e 43 m3/ha ano-1. No plantio do Araripe, um microclima dentro do semiárido, o primeiro corte acontece depois de quatro anos do plantio e um IMA de 100 m3.ha-1. “São resultados excelentes”, garante Marcos.
Integração - Segundo ele, a implantação de floresta energética no Araripe pode ser consorciada com uma gramínea para integrar essa atividade à criação pecuária, que uma fonte de renda tradicional dos agricultores familiares da região.

Contatos:
Marcos Drumond – Pesquisador;

Fernanda Birolo Jornalista (MTb/AC 81)

Marcelino Ribeiro Jornalista (MTb/BA 1127)

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