Abaixo, apresentamos um informativo sobro a palestra.
OS RECIFES DE CORAL DO BRASIL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS – DESAFIO PARA SUA CONSERVAÇÃO
Zelinda M. A.
N. Leão; Ruy K.P. Kikuchi; Marília D.M. Oliveira – UFBA / IGEO / RECOR /
INCT-AmbTropic. Rua Barão de Jeremoabo s/n, Campus de Ondina, Salvador,
40170-115, Bahia. E-mail: zelinda@ufba.br
Os ambientes marinhos costeiros estão
entre os sistemas mais produtivos do planeta, incluídos neles os recifes
de coral. Os recifes ocupam aproximadamente 0,02% da área global dos
oceanos, abrigando cerca de ¼ de todas as espécies marinhas. Eles
suportam, assim, uma grande diversidade de vida, oferecendo locais de
refúgio, desova, criação, alimentação e reprodução para muitas espécies,
além de serem uma importante fonte de alimento e de recursos econômicos
para a sobrevivência das populações costeiras (Moberg & Folke,
1999). Os processos de vida nos recifes de coral são extremamente
complexos devido ao alto grau de interdependência entre seus organismos,
e esta relação entre os vários componentes do ecossistema torna-o muito
frágil e suscetível aos impactos que afetam o ambiente, sobretudo a
ação sinérgica das mudanças globais e da depredação dos recursos
naturais pelo homem, entre outros, a sobrepesca, a poluição marinha e o
uso desordenado das zonas costeiras (Hughes et al., 2003). Calcula-se
que atualmente 20% dos recifes já estejam severamente danificados e
outros 20%, que estão seriamente ameaçados, venham a desaparecer nos
próximos 20 a 40 anos (Wilkinson, 2008). Um aumento relativamente
pequeno da temperatura das águas dos oceanos pode provocar a ocorrência
do branqueamento nos corais, que é um processo relacionado à perda,
pelos corais, das suas algas fotossintetizantes – as zooxantelas, que
estão presentes no seu tecido e que participam de uma cooperação vital
que beneficia ambos os organismos. Esse processo faz com que o coral
perca a sua cor exibindo o esqueleto calcário branco, dai o nome
branqueamento. As zooxantelas, além de darem a cor ao coral, produzem
componentes orgânicos que lhes servem de alimento e, em contrapartida, o
coral lhes provê abrigo e fornece elementos químicos necessários à sua
sobrevivência. Distúrbios ambientais podem interromper esta delicada
simbiose, causando dissociação entre as algas e os corais, provocando
mudanças na estrutura das comunidades coralinas, sobretudo na diminuição
do crescimento linear e na redução da taxa de calcificação do esqueleto
dos corais e, consequentemente, na manutenção e no desenvolvimento da
estrutura recifal. No Brasil registros de eventos de branqueamento datam
a partir do verão de 1993/1994 com ocorrências nos recifes localizados
desde a costa nordeste até comunidades de corais presentes na costa do
estado de São Paulo, e todos estes registros indicam que a ocorrência de
branqueamento está relacionada a um aumento anormal da temperatura das
águas oceânicas (Leão et al., 2010). Os efeitos das mudanças climáticas
globais têm afetado as regiões costeiras em todo o mundo e,
particularmente na América Latina e o Brasil não é exceção, há, ainda,
proporcionalmente, pouca pesquisa sendo realizada para entender seus
impactos futuros (Turra et al., 2013). Há um consenso mundial quanto à
necessidade de se promover o manejo e a conservação dos recifes de
coral. No Brasil, as unidades de conservação dos recifes estão
distribuídas ao longo de todo o litoral e abrange, também, as ilhas
oceânicas, apresentando um sistema amplo, com diferentes categorias de
manejo nos três níveis de governo, federal, estadual e municipal, e
estas diferentes categorias surgem de acordo com estudos e demandas
comunitárias conforme as características e as alternativas locais para a
conservação dos recursos naturais do ecossistema (Prates, 2006). Essas
áreas protegidas são consideradas, assim, como a mais poderosa
ferramenta para a conservação dos recifes de coral.
Referências:
Hughes, T.P.; Baird, A.H.; Bellwood,
D.R.; Card, M.; Connolly, S.R.; Folke, C.; Grosberg, R.; Hoegh-Gulberg,
O.; Jackson, J.B.C.; Kleypas, J.; Lough J.M.; Maarshall, P.; Nyström,
M.; Palumbi, S.R.; Pandolfi, J.M.; Rosen, B.; Roughgarden, J. Climate
change, human impacts and the resilience of coral reefs. Science
301:929-933, 2003.
Leão, Z.M.A.N.; Kikuchi R.K.P.; Oliveira
M.D.M.; Vasconcellos, V. Status of Eastern Brazilian coral reefs in
time of climate changes. Pan-American Jour. Aquat. Sci. 5(2):224-235,
2010.
Moberg, F.; Folke, C. Ecological goods and services of coral reef ecosystems. Ecol. Econ. 29:215-233, 1999.
Prates, A.P.L. (Org.). Atlas dos Recifes
de Coral nas Unidades de Conservação Brasileiras, 2ª. Edição.
Ministério do Meio Ambiente. SBF, 232p., 2006.
Turra, A., Cróquer, A., Carranza, A.,
Mansillas, A., Areces A.J., Werllinger, C., Martinez-Bayon, C., Nassar,
C.A.G., Plastino, E., Schwindt, E., Scarabino, F., Chow, F., Figueroa,
F.L., Berchez, F., Hall-Spencer, J.M., Soto, L., Buckeridge, M.,
Copertino, M., Széchy, M.T., Ghilardi-Lopes, N.P., Horta, P., Coutinho,
R., Fraschetti, S., Leão, Z.M.A.N. Global environmental changes: setting
priorities for Latin American coastal habitats. Global Change Biology,
2013.
Wilkinson, C. Status of coral reefs of
the World 2008. GCRMN, Australian Institute of Marine Science,
Townsville, Australia, 298p., 2008.
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