4 de dezembro de 2013

OS RECIFES DE CORAL DO BRASIL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: DESAFIO PARA SUA CONSERVAÇÃO






 Abaixo, apresentamos um informativo sobro a palestra.


OS RECIFES DE CORAL DO BRASIL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS – DESAFIO PARA SUA CONSERVAÇÃO

Zelinda M. A. N. Leão; Ruy K.P. Kikuchi; Marília D.M. Oliveira – UFBA / IGEO / RECOR / INCT-AmbTropic. Rua Barão de Jeremoabo s/n, Campus de Ondina, Salvador, 40170-115, Bahia. E-mail: zelinda@ufba.br
Os ambientes marinhos costeiros estão entre os sistemas mais produtivos do planeta, incluídos neles os recifes de coral. Os recifes ocupam aproximadamente 0,02% da área global dos oceanos, abrigando cerca de ¼ de todas as espécies marinhas. Eles suportam, assim, uma grande diversidade de vida, oferecendo locais de refúgio, desova, criação, alimentação e reprodução para muitas espécies, além de serem uma importante fonte de alimento e de recursos econômicos para a sobrevivência das populações costeiras (Moberg & Folke, 1999). Os processos de vida nos recifes de coral são extremamente complexos devido ao alto grau de interdependência entre seus organismos, e esta relação entre os vários componentes do ecossistema torna-o muito frágil e suscetível aos impactos que afetam o ambiente, sobretudo a ação sinérgica das mudanças globais e da depredação dos recursos naturais pelo homem, entre outros, a sobrepesca, a poluição marinha e o uso desordenado das zonas costeiras (Hughes et al., 2003). Calcula-se que atualmente 20% dos recifes já estejam severamente danificados e outros 20%, que estão seriamente ameaçados, venham a desaparecer nos próximos 20 a 40 anos (Wilkinson, 2008). Um aumento relativamente pequeno da temperatura das águas dos oceanos pode provocar a ocorrência do branqueamento nos corais, que é um processo relacionado à perda, pelos corais, das suas algas fotossintetizantes – as zooxantelas, que estão presentes no seu tecido e que participam de uma cooperação vital que beneficia ambos os organismos. Esse processo faz com que o coral perca a sua cor exibindo o esqueleto calcário branco, dai o nome branqueamento. As zooxantelas, além de darem a cor ao coral, produzem componentes orgânicos que lhes servem de alimento e, em contrapartida, o coral lhes provê abrigo e fornece elementos químicos necessários à sua sobrevivência. Distúrbios ambientais podem interromper esta delicada simbiose, causando dissociação entre as algas e os corais, provocando mudanças na estrutura das comunidades coralinas, sobretudo na diminuição do crescimento linear e na redução da taxa de calcificação do esqueleto dos corais e, consequentemente, na manutenção e no desenvolvimento da estrutura recifal. No Brasil registros de eventos de branqueamento datam a partir do verão de 1993/1994 com ocorrências nos recifes localizados desde a costa nordeste até comunidades de corais presentes na costa do estado de São Paulo, e todos estes registros indicam que a ocorrência de branqueamento está relacionada a um aumento anormal da temperatura das águas oceânicas (Leão et al., 2010). Os efeitos das mudanças climáticas globais têm afetado as regiões costeiras em todo o mundo e, particularmente na América Latina e o Brasil não é exceção, há, ainda, proporcionalmente, pouca pesquisa sendo realizada para entender seus impactos futuros (Turra et al., 2013). Há um consenso mundial quanto à necessidade de se promover o manejo e a conservação dos recifes de coral. No Brasil, as unidades de conservação dos recifes estão distribuídas ao longo de todo o litoral e abrange, também, as ilhas oceânicas, apresentando um sistema amplo, com diferentes categorias de manejo nos três níveis de governo, federal, estadual e municipal, e estas diferentes categorias surgem de acordo com estudos e demandas comunitárias conforme as características e as alternativas locais para a conservação dos recursos naturais do ecossistema (Prates, 2006). Essas áreas protegidas são consideradas, assim, como a mais poderosa ferramenta para a conservação dos recifes de coral.
Referências:
Hughes, T.P.; Baird, A.H.; Bellwood, D.R.; Card, M.; Connolly, S.R.; Folke, C.; Grosberg, R.; Hoegh-Gulberg, O.; Jackson, J.B.C.; Kleypas, J.; Lough J.M.; Maarshall, P.; Nyström, M.; Palumbi, S.R.; Pandolfi, J.M.; Rosen, B.; Roughgarden, J. Climate change, human impacts and the resilience of coral reefs. Science 301:929-933, 2003.
Leão, Z.M.A.N.; Kikuchi R.K.P.; Oliveira M.D.M.; Vasconcellos, V. Status of Eastern Brazilian coral reefs in time of climate changes. Pan-American Jour. Aquat. Sci. 5(2):224-235, 2010.
Moberg, F.; Folke, C. Ecological goods and services of coral reef ecosystems. Ecol. Econ. 29:215-233, 1999.
Prates, A.P.L. (Org.). Atlas dos Recifes de Coral nas Unidades de Conservação Brasileiras, 2ª. Edição. Ministério do Meio Ambiente. SBF, 232p., 2006.
Turra, A., Cróquer, A., Carranza, A., Mansillas, A., Areces A.J., Werllinger, C., Martinez-Bayon, C., Nassar, C.A.G., Plastino, E., Schwindt, E., Scarabino, F., Chow, F., Figueroa, F.L., Berchez, F., Hall-Spencer, J.M., Soto, L., Buckeridge, M., Copertino, M., Széchy, M.T., Ghilardi-Lopes, N.P., Horta, P., Coutinho, R., Fraschetti, S., Leão, Z.M.A.N. Global environmental changes: setting priorities for Latin American coastal habitats. Global Change Biology, 2013.
Wilkinson, C. Status of coral reefs of the World 2008. GCRMN, Australian Institute of Marine Science, Townsville, Australia, 298p., 2008.

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