28 de junho de 2010

Carismáticas, baleias-jubartes poderão ser caçadas no Ártico
REINALDO JOSÉ LOPESENVIADO ESPECIAL A AGADIR
As baleias-jubartes, famosas por seu canto e por suas gigantescas nadadeiras, voltarão a ser caçadas legalmente por humanos no Ártico, decidiu ontem a CIB (Comissão Internacional da Baleia).
A determinação, acordada durante a reunião anual do órgão em Agadir, Marrocos, significa que 27 jubartes poderão ser abatidas nos próximos três anos. É a primeira vez que se autoriza o abate da espécie em escala que pode ser considerada comercial.
A permissão foi dada aos povos indígenas da Groenlândia. Eles, como outras populações tradicionais do Ártico e do Caribe, são beneficiados pela chamada caça aborígine de subsistência.
Reuters
Ambientalistas protestam contra a caça à baleia na Antártida atirando objetos em navio baleeiro
Segundo esse mecanismo da CIB, povos que usem as baleias como alimento e como elementos importantes de sua cultura original podem capturar um número limitado de cetáceos.
A caça comercial de todas as espécies desses animais continua sob moratória.
Nas gôndolas
Na prática, porém, há sérias dúvidas sobre o caso das jubartes da Groenlândia, uma vez que a carne das baleias da espécie fin, já capturada pelos nativos com permissão da CIB, frequentemente vai parar nos supermercados da Dinamarca.
"Até onde sei, os groenlandeses dificilmente estão passando fome. Trata-se de uma população com alta renda per capita e com acesso a vastos recursos pesqueiros. Então, há problemas no uso do termo "caça de subsistência" nesse caso", disse o representante de Mônaco na CIB. Mônaco foi, aliás, o único país europeu a apoiar a oposição latino-americana à caça das jubartes. A Costa Rica teme que a morte das baleias no Ártico debilite seu turismo de observação de baleias.
É que os mesmos bichos que se alimentam na Groenlândia descem para o Caribe na época da reprodução.
Há também o fato de que as jubartes deixaram oficialmente o status de ameaçadas de extinção há apenas dois anos, o que faz biólogos e conservacionistas temerem a volta da captura.
Os países latinos chegaram perto de tentar melar a negociação, pedindo votação em vez de decisão por consenso. Seria necessária uma maioria de três quartos dos 88 países-membros da CIB para a vitória da proposta de caça à jubarte, colocada na mesa pela Dinamarca.
Na última hora, porém, os dinamarqueses conseguiram o apoio do resto da UE, bem como dos países caçadores.
A reunião encerrada ontem pareceu seguir um roteiro há muito ensaiado.
Quase não houve consenso entre países conservacionistas e o grupo de apoiadores do Japão. A temperatura subiu um pouco no fim da manhã de ontem, quando o governo da Noruega acusou defensores dos direitos animais de forjarem um vídeo sobre a morte dolorosa e prolongada de uma baleia atacada por caçadores.
Apesar da sombra sobre as jubartes, o biólogo brasileiro José Truda, veterano de reuniões da CIB, vê com otimismo o resultado geral da reunião. "Achei muito bom que o pacotão não tenha sido aprovado", disse Truda, referindo-se a uma tentativa de permitir, de forma restrita, a caça comercial por parte do Japão ao longo de dez anos.
Egoísmo
"O lamentável é que o Japão não tenha aproveitado esse pacote para negociar. Seria possível aceitar a caça nas águas territoriais deles, mas não na Antártida", diz.O problema, explica Truda, é que o Japão tente "privatizar" um recurso internacional (as baleias antárticas).
Os países da CIB decidiram que haverá uma pausa nas negociações até a próxima reunião, em setembro do ano que vem. "Esperamos que a CIB aborda cada vez mais a temática da conservação", afirma Fábio Pitaluga, negociador-chefe do Brasil.

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