28 de novembro de 2009

Metodologia permite identificar espécies de tubarões pescadas no litoral brasileiro

Publicado em 01/03/2009 | Atualizado em 23/09/2009

Exemplares de tubarão da espécie Rhizoprionodon lalandii (fotos: divulgação).

Os tubarões, animais entre os de maior perigo de extinção do planeta, são livremente capturados em quase toda a costa brasileira – exceto no Rio Grande do Sul, onde há uma lei que proíbe a pesca de cinco espécies. Devido a essa falta de regulamentação e à demanda crescente por carne e nadadeiras de tubarões, pesquisadores afirmam que em 10 anos, se nada for feito para controlar a pesca industrial e artesanal, aproximadamente 90% das espécies desse peixe terão desaparecido no litoral do país.

Frente à escassez de dados relativos às espécies mais capturadas, o biólogo Fernando Mendonça, do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), criou uma metodologia para identificação dos tubarões pescados na costa brasileira. Segundo Mendonça, a metodologia já possibilitou a identificação de 12 das 25 espécies existentes no litoral brasileiro e, em breve, poderá abarcar todas.

A técnica usada por ele, chamada PCR-multiplex (reação em cadeia da polimerase, na sigla em inglês), envolve a identificação das espécies por meio de um exame de DNA. “Cada espécie tem características genéticas exclusivas e são essas diferenças que possibilitam a identificação”, explica o biólogo.

Pequenos fragmentos de tubarões pescados (músculo, cartilagem, pele, sangue etc.) são recolhidos em mercados e em desembarques de peixes, e, com a autorização dos pescadores e comerciantes, levados para laboratório para a realização do exame de DNA. Como a pesca de tubarão é realizada em todo o litoral brasileiro, a coleta de amostras foi feita em diversas regiões onde o desembarque é mais frequente. Salvador (BA), Macaé (RJ), Ubatuba e Santos (SP), Itajaí (SC) e Torres (RS) são algumas das cidades.

A metodologia dispensa a análise morfológica das espécies e seu processo laboratorial é simples e de baixo custo. Um segundo passo do processo consiste na avaliação da proporção de espécies mais capturadas em relação aos seus estoques originais, o que possibilita a fiscalização daquelas em maior declínio populacional e que precisam de maior proteção.

Preservação e comércio

Carne de tubarões exposta no mercado de peixes em Ubatuba (SP).

Além de criar bases para o desenvolvimento de planos de conservação das espécies ameaçadas, Mendonça aponta outros aspectos beneficiados pela metodologia: “Os dados gerados também podem ser aplicados comercialmente como método de certificação da carne e, principalmente, das nadadeiras. O comércio das nadadeiras de tubarão é legalizado, extremamente lucrativo e tem seu preço determinado também pela espécie à qual elas pertencem.”

Grande parte da pesca de tubarões no litoral brasileiro se deve à chamada ‘captura acidental’, na qual os animais ficam presos na rede de pesca sem serem o alvo de captura. Como as nadadeiras de tubarão são muito valorizadas no mundo todo (na Coréia, seu valor pode chegar a US$ 400 o quilo), os animais não são devolvidos ao mar.

Em especial na pesca industrial, eles já chegam ao porto cortados e abertos, prejudicando assim o reconhecimento das características morfológicas das diferentes espécies. Por isso, apenas 22% dos tubarões capturados no Brasil recebem algum tipo de identificação. Os demais são conhecidos apenas por seus nomes populares – tubarão ou cação – que, em geral, abarcam mais de uma espécie.


Isabela Fraga
Ciência Hoje/RJ

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