6 de setembro de 2013

Bancos planejam cortar o crédito de empresas que não valorizam os recursos naturais da Terra

Bancos cobrarão por sustentabilidade


Gareth Kirkland/Shutterstock
Valor do capital natural: Bancos declaram que alimentos, fibras, água, saúde, energia, segurança climática e outros serviços essenciais fornecidos pelo capital natural valem trilhões de dólares por ano.
Por Paul Brown e The Daily Climate

LONDRES — Não é fácil estipular um valor para uma floresta intacta, um rio limpo, ou o ar despoluído, mas é exatamente isso que um grupo dos maiores bancos do mundo está tentando fazer.

As instituições financeiras concordaram que o atual sistema econômico utiliza e frequentemente destrói o meio ambiente impunemente — o que não é sustentável.

Os bancos também estão preocupados com o fato de que algumas empresas gastam recursos naturais tão rapidamente, sem pensar em seu próprio futuro — e muito menos no do planeta —, que elas entrarão em colapso. Por essa razão, eles querem adotar um meio de adverti-las e, em última instância, cortar seus créditos a não ser que elas mudem sua conduta.

As 43 instituições financeiras em questão, entre elas o Banco Mundial, estão criando um grupo de trabalho em resposta à Conferência de 2012 da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio + 20, quando os primeiros 39 grandes bancos assinaram a “Declaração do Capital Natural”.

Fundamental para o bem-estar

O documento definiu capital natural como “todos os ativos naturais da Terra (solo, ar, água, flora e fauna) e todos os seus serviços ecossistêmicos que tornam possível a existência de vida humana”.

O texto prossegue afirmando que “alimentos, fibras, água, saúde, energia, segurança climática e outros serviços essenciais provenientes do capital natural valem trilhões de dólares por ano, mas não são adequadamente valorados em comparação ao capital social ou financeiro”.

“Apesar de ser fundamental para o nosso bem-estar, o seu uso diário permanece (praticamente) despercebido no nosso sistema econômico. A utilização do capital natural dessa forma não é sustentável”, afirma a declaração.

Os banqueiros reconheceram que em parte isso era sua culpa, porque eles não tinham uma fórmula para valorizar esse capital. Além disso, admitiram não reconhecer na ocasião o perigo para a estabilidade de algumas empresas devido à destruição desses ativos.

Revelação forçada

Os bancos querem que os governos forcem as empresas a revelar sua dependência do capital natural e o impacto que elas têm sobre ele em seus relatórios financeiros anuais. Eles também querem a adoção de penalidades para as companhias que não o fizerem e incentivos fiscais para as que protegem o capital natural como parte de seus negócios.

É claro os banqueiros sabem que para valorizar o capital natural alguém precisa estipular o quanto ele vale em termos monetários. Que valor se pode atribuir a um hectare de floresta pelo o ar limpo, a coleta de chuva, o sequestro de carbono e os alimentos que ele fornece? Igualmente importante é determinar a perda econômica se esse capital for destruído.

Indústrias como a da mineração ou do fracking estão na linha de frente, porque suas operações são consideradas amplamente nocivas por danificarem e gastarem os recursos de água potável, além de gerarem poluição. Os banqueiros querem estipular um preço em dinheiro para isso e perguntar se o risco financeiro causado pelo sobreuso de recursos a esses negócios torna essas empresas um mau investimento.

Etiquetas de preço para o mundo natural

Todos os negócios, mesmo os bancos que controlam investimentos, têm um impacto sobre o meio ambiente natural pelo qual em geral não pagam nada e que não aparece em suas contas. Portanto, para transformar sua declaração um tanto precipitada de um ano atrás em algo mais tangível, os banqueiros criaram um grupo poderoso de trabalho para colocar um preço no mundo natural.

Liesel Van Ast, gerente de projeto para a Declaração do Capital Natural está sediada no Global Canopy Programme, em Oxford, na Inglaterra. Ela trabalha com a Iniciativa Financeira das Nações Unidas em Genebra, para ajudar os banqueiros a criar diversos comitês para colocar em prática as intenções da declaração.

“Os banqueiros precisam considerar como pretendem contabilizar o capital natural; explicar a todos por que precisam fazer isso e dizer a eles como devem proceder”, observou ela.

“Todo mundo acredita que pode se safar antes que os recursos se esgotem e que ocorra o colapso. Temos a esperança de mudar essa atitude e fazer com que as empresas paguem um preço pelo sobreuso do capital natural”.

Sem ilusões

Ninguém tem ilusões de que a determinação dos banqueiros de fazer com que o capital natural seja contabilizado nos balanços e depois levado em conta no preço das ações, nos juros sobre os empréstimos e nos custos de seguro, ocorrerá rapidamente.

Eles estabeleceram o ano de 2020 como meta para criar e implantar um sistema internacional reconhecido por todos os governos signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Eles admitem que o trabalho possa ser lento e difícil, mas acreditam que a medida é vital para evitar que o atual sistema econômico destrua o planeta.

Este artigo foi publicado originalmente no site The Daily Climate, a fonte de notícias sobre mudanças climáticas publicadas pela Environmental Health Sciences, uma empresa de mídia sem fins lucrativos.

http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/bancos_cobrarao_por_sustentabilidade.html
 

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