O número de propriedades particulares na mata atlântica transformadas em
reservas por iniciativa dos próprios donos aumentou 80% nos últimos dez
anos, indica levantamento de ONGs ambientalistas. Apesar do
crescimento, porém, a área somada dessas unidades de conservação ainda é
menor que o município de São Paulo.
As RPPNs (reservas particulares do patrimônio nacional) existem desde a
década de 1990, quando o Ibama viu uma oportunidade para engajar
proprietários de terra em esforços de conservação. A iniciativa é
particularmente importante na mata atlântica, onde 80% do que resta da
vegetação original está em propriedades privadas.
"Amigos me diziam que eu estava louco", diz dono de reserva particular
Hoje, há 762 RPPNs no bioma espalhadas em 14 Estados, somando 142 mil
hectares. Segundo ambientalistas que dão suporte técnico a proprietários
de RPPNs, apesar de existirem alguns incentivos, como a isenção de ITR
(imposto territorial rural), a principal motivação para a criação das
reservas ainda é a consciência ambiental.
"Muitos proprietários de terra permanecem por muito tempo nessas áreas e
acabam desenvolvendo um carinho especial por elas", conta Mariana
Machado, coordenadora do programa de incentivo a RPPNs das ONGs SOS Mata
Atlântica e Conservação Internacional. "Alguns têm a preocupação de que
as próximas pessoas a serem donas da área não cuidem dela."
Como a RPPN é uma unidade de conservação criada em caráter perpétuo,
porém, alguns proprietários temem que suas terras percam valor e que
talvez precisem vendê-las no futuro. Mas há quem aposte que a criação da
reserva valorize o terreno.
MAIS VALOR
Donos de hotéis, agricultores orgânicos e agentes de ecoturismo são o
novo perfil de proprietário que tem procurado a SOS Mata Atlântica atrás
de ajuda para criar RPPNs. A ONG oferece auxílio no trâmite burocrático
e no plano de manejo das áreas conservadas das reservas.
Editoria de Arte/Folhapress |
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Muitas novas RPPNs são pequenos negócios com mata intocada ao redor.
Para o jornalista João Yuasa, que constrói uma pousada em São Luiz do
Paraitinga (SP), onde já tinha um sítio, a motivação principal para
criar uma reserva é a vontade de preservar. Ele diz crer, porém, que a
iniciativa acrescente valor ao seu novo investimento.
"O perfil de hóspede que a gente quer é a pessoa com um pouco de
consciência ecológica, que valoriza a preservação ambiental, o silêncio e
a tranquilidade", diz Yuasa.
Segundo o Global Environment Facility, fundo que banca iniciativas de
conservação, o aumento do número de RPPNs é essencial para preservar a
região, onde matas remanescentes são apenas 8,5% da cobertura original e
estão muito fragmentadas.
"A mata atlântica não é como a Amazônia, onde US$ 3 milhões criam uma
reserva de 1 milhão de hectares", diz Gustavo Fonseca, coordenador de
biodiversidade do fundo. "Aqui o setor público não tem como arcar com o
custo. O preço da terra é muito alto, e é preciso ter o envolvimento da
sociedade para preservar essas áreas importantes."
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