7 de dezembro de 2011

Vacina brasileira contra a leishmaniose visceral

Em definitivo

Vacina brasileira contra a leishmaniose visceral em cães ganha licença permanente e se torna oficialmente a primeira do mundo a prevenir a doença.

Além de impedir a contaminação dos animais, ela controla a transmissão para humanos.
Por: Sofia Moutinho Publicado em 05/12/2011 | Atualizado em 5/12/2011
A leishmaniose visceral é mais comum em cães de zonas urbanas. A vacina brasileira Leishmune previne a doença nos animais imunizados e ainda impede a expansão para humanos. (foto: Sofia Moutinho)

A leishmaniose visceral, considerada pela Organização Mundial de Saúde uma das seis maiores epidemias de origem parasitária do mundo – presente em 12 países da América Latina, com 90% dos casos registrados no Brasil – conta agora com uma forma de controle reconhecida.

A vacina brasileira Leishmune, que impede os cães de contraírem e transmitirem a doença para humanos, acaba de receber permissão definitiva para comercialização.A vacina, lançada em 2003 pela empresa Fort Dodge, já era usada por veterinários por meio de uma licença provisória e, agora, recebeu o aval definitivo do Ministério da Agricultura, tornando-se a primeira registrada contra a leishmaniose visceral canina do mundo.“Quanto maior for a quantidade de cães vacinados em uma área endêmica, mais difícil será a transmissão da doença”A injeção não protege humanos, mas é eficaz para controlar a expansão da doença porque o cão é o principal reservatório do protozoário causador da leishmaniose, o Leishmania chagasi.

O homem só se infecta ao ser picado por um mosquito birigui que tenha contraído o parasita ao picar um animal doente.Testes feitos entre 2004 e 2006 em Belo Horizonte, Minas Gerais, e Araçatuba, São Paulo, demonstraram que houve redução de até 60% da incidência da doença em humanos depois da vacinação massiva de cães na região.“Quanto maior for a quantidade de cães vacinados em uma área endêmica, mais difícil será a transmissão da doença”, afirma a pesquisadora responsável pela criação da Leishmune, a microbióloga Clarisa Palatnik, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A leishmaniose visceral é transmitida ao cão e ao homem pelo mosquito birigui. (foto: Wikimedia Commons/ James Gathany)A vacina mostrou ter eficiência de 95%, o que significa dizer que de cada 100 cães vacinados, 95 ficam protegidos contra a doença. Além de evitar que o cão desenvolva a leishmaniose, a nova vacina impede que o mosquito transmissor que pique o animal vacinado venha a alojar o protozoário e o retransmitir.
“Quando o inseto pica o cão vacinado, os anticorpos presentes no seu sangue por causa da vacina se alojam em seu organismo e esses anticorpos impedem que o parasita da leishmaniose complete o seu ciclo de vida”, explica Palatinik. Fim dos sacrifícios

No Brasil, o tratamento para a leishmaniose canina é proibido e qualquer cão que contraia a doença tem que ser sacrificado, pois os tratamentos existentes não são 100% eficazes e deixam o animal infectante por alguns períodos, o que representa um risco para os humanos. Com a vacina, o risco do sacrifício cai quase a zero.Apesar de já estar pronta e liberada para o uso por veterinários, Palatinik diz que ainda não recebeu proposta do governo ou da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fornecer doses para campanhas de vacinação.A pesquisadora, que levou 23 anos para chegar à Leishmune, agora estuda uma forma de facilitar a sua produção. A vacina disponível no mercado usa uma proteína não infectante inteira do parasita para induzir a resposta do sistema imunológico.

Palatinik trabalha para desenvolver uma vacina gênica, que use uma menor porção da proteína, de modo a tornar a produção em larga escala mais viável.O estudo da vacina canina pode ajudar a obter informações relevantes para o desenvolvimento de uma para humanosO estudo da vacina canina também pode ajudar a obter informações relevantes para o desenvolvimento de uma para humanos.


“O ideal seria termos as duas vacinas, para humanos e para cães, mas temos que esperar ainda por resultados mais consistentes nos cães para passarmos para testes com humanos”, pontua Palatinik.A pesquisadora afirma que os estudos para desenvolver uma vacina para humanos ainda são muito iniciais, mas avisa que duas empresas já a procuraram para aperfeiçoar a pesquisa com a vacina para cães e financiar estudos com vacinas para humanos.

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line

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