19 de dezembro de 2011

Maior família de plantas do mundo ganha bancos de dados integrados


Objetivo é aumentar e melhorar o entendimento sobre a origem e a evolução
das espécies

Globo Rural On-line
À exceção da Antártica, é possível encontrar em todo o mundo uma família de plantas, conhecida como Compositae ou Asteraceae, que possui quase 30 mil espécies, espalhadas pelos mais variados biomas. Para aumentar e melhorar o entendimento sobre a origem e a evolução dessa família de plantas, composta por espécies como o girassol, a alface, a margarida e o crisântemo, cientistas dos Estados Unidos, em parceria com pesquisadores de diversos países, como o Brasil,
estão desenvolvendo bancos de dados e sistemas de busca globais para integrar informações taxonômicas e biogeográficas sobre Compositae.

Algumas iniciativas foram apresentadas no The South American
Compositae Meeting –reunião internacional que ocorreu nos dias 5 e 6 de
dezembro, no auditório da Fapesp, em São Paulo, e teve como objetivo apresentar
os mais recentes desenvolvimentos na sistemática, biogeografia, evolução e
conservação de Compositae. Durante o evento, Vicki
Funk, pesquisadora e curadora do Museu Nacional de História
Natural do Instituto Smithsonian, dos Estados Unidos, pediu a ajuda dos
pesquisadores presentes para a conclusão de dois projetos em andamento para a
construção de banco e dados globais, disponíveis na internet, sobre Compositae.
Denominados Global Compositae Checklist (GCC) e Compositae
Enciclopédia da Vida (C-EOL), os projetos estão sendo coordenados pela
The International Compositae Alliance (Tica), que reúne cerca
de 500 pesquisadores, de mais de 60 países, incluindo o Brasil. De
acordo com a pesquisadora, cerca de 70% das listas de espécies do GCC – o
primeiro projeto de um banco de dados biogeográficos integrados sobre Compositae
da Tica – já estão finalizadas. O objetivo, agora, segundo ela, é finalizar a
integração de listas de espécies de países como o Brasil e Madagascar, na
África. “Nós já fizemos listas nacionais e regionais de espécies de
Compositae de países como Peru, Equador, Colômbia e do Brasil, que ainda falta
integrar completamente suas listas”, disse Funk. Lançado em 2005,
durante o Congresso Internacional de Botânica em Viena, na
Áustria, o GCC pretende reunir informações sobre nomenclatura e taxonomia das 25
mil espécies de Compositae estimadas no mundo. Com isso, de acordo com os
coordenadores do projeto, será possível reunir as informações de 10% da
flora mundial. “Esse banco de dados integrados de Compositae
será um importante recurso para a manutenção da biodiversidade
e da biossegurança dessa família de plantas”, avaliou Funk.
Já o mais novo e ambicioso projeto de construção de um banco de dados de
Compositae, capitaneado pela Tica, é a C-EOL. Lançado em 2010, o
objetivo do projeto é reunir informações biológicas de todas as espécies de
Asteracea que existem ou existiram no mundo e dedicar uma página na internet com
imagens de cada uma delas. Para criar o banco de dados, os pesquisadores
desenvolveram uma ferramenta virtual, denominada Virtual Key to the
Compositae (VKC), para identificar as espécies em todo o mundo com base
em uma matriz reunindo o maior número possível de informações sobre elas.
De acordo com o pesquisador Mauricio Bonifacino, professor da
Universidade de la República, no Uruguai, um dos maiores desafios para a
construção da ferramenta está sendo a terminologia das espécies. “Nós avançamos
muito na construção dessa ferramenta. Mas ainda é preciso caminhar bastante para
padronizar a terminologia das espécies”, disse.
Lista de espécies
brasileiras
Em 2010, o Brasil divulgou a lista de espécies de sua flora, cumprindo uma
das metas da Estratégia Global para a Conservação de Plantas
(GSPC), estabelecida pela Conservação sobre a Diversidade Biológica, da
qual o país é signatário. A GSPC estabeleceu que cada país signatário da
Convenção deve elaborar um lista de suas espécies conhecidas de plantas como
primeiro passo para a construção de uma lista completa da flora
mundial. A primeira versão da lista brasileira apresentou um
total de 40.982 espécies da flora brasileira, sendo 3.608 de fungos, 3.495 de
algas, 1.521 de briófitas, 1.176 de pteridófitas, 26 de gimnospermas e 31.156 de
angiospermas dos quais 1.966 são Asteraceae, que foram incluídas no Global
Compositae Checklist e das quais cerca de um terço ocorre no estado de São
Paulo. Durante a elaboração do projeto "Diretrizes para a conservação e
restauração da biodiversidade de São Paulo", foi constatado que há um
desequilíbrio na coleta de espécies de planta no estado. Os
pesquisadores participantes do projeto identificaram que há uma grande carência
de coleta nas áreas de cerrado de São Paulo, onde justamente
estão concentradas as Asteraceae. E que árvores e arbustos são muito mais
coletadas do que as Asteraceae devido, em parte, à dificuldade para se
identificar as espécies. “É preciso direcionar as coletas para as
Asteraceae no estado de São Paulo, especialmente nas áreas de cerrado, que vem
sendo degradado a passos largos pela agricultura. Se nós não
nos apressarmos em conhecer a biodiversidade de plantas dessa
região pode ser tarde demais”, alertou Mara Magenta, professora da Universidade
Santa Cecília.
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