Exatamente, por isso, o biólogo Leandro Jerusalinsky, que coordena o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/CPB), alerta os vários setores da sociedade envolvidos com a conservação para a necessidade de unir esforços e dar todo o apoio às ações de preservação do guigó.
Segundo Jerusalinsky, a perda de habitat, o impacto ambiental provocado por atividades relacionadas à urbanização, à produção agropecuária e às tentativas de domesticação dos animais, é a principal causa de ameaça. "A caça e a captura de animais para domesticação levam à redução das populações naturais, implicando desestruturação demográfica e perda de variabilidade genética, o que torna as populações mais suscetíveis à extinção", diz o biólogo.
Projeto
Ao lado de Renato Hilário, doutor em zoologia, Leandro integra o Projeto Guigó, que atua em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sermarh). Nos últimos dez anos, o projeto vem estudando o comportamento da espécie em campo com o objetivo de definir estratégias de conservação.
Os dados recolhidos pelos pesquisadores foram compilados em duas teses defendidas entre janeiro e julho deste ano. Os resultados serão apresentados no Congresso Brasileiro e Latino-Americano de Primatologia, que ocorre até sexta-feira (9) em Recife (PE), e também no Seminário de Pesquisa do ICMBio, entre 10 e 12 de setembro, em Brasília. "A análise das teses defendidas nesses trabalhos é muito relevante porque confirma que as populações de guigós, especialmente as que estão em pequenos fragmentos isolados estão sendo gradualmente extintas", afirma Leandro.
Plano de ação
Durante a apresentação também serão abordadas estratégias propostas pela pesquisa para o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas do Nordeste. Em 2010, foi criado em Capela (SE) o Refúgio da Vida Silvestre Mata do Junco (RVS), uma unidade de conservação estadual de proteção. O espaço, a 70 quilômetros de Aracaju, tem quase 900 hectares de Mata Atlântica destinados à proteção das nascentes do riacho Lagartixo e à preservação de espécies ameaçadas de extinção.
A área, entretanto, não é o suficiente para a conservação das populações. Segundo Leandro, a maior dificuldade de manter a espécie em equilíbrio é a manutenção dos fragmentos florestais e a complexidade para conectá-los novamente. O macaco guigó é considerado um animal territorial que só convive com indivíduos da mesma espécie. Essa adaptação pode ajudar na obtenção de alimentos e na observação de possíveis predadores, o que garante a sua sobrevivência. A preservação da espécie fortalece as ações de conservação dos fragmentos de Mata Atlântica.
O desequilíbrio ambiental pode provocar a endogamia, quando os animais se vêem obrigados a se reproduzir entre membros da mesma família. Isso pode causar sérios problemas para os genes, deixando as populações mais suscetíveis a doenças. "Mesmo com o Projeto Guigó, estimamos que a espécie possa vir a se extinguir localmente em poucas décadas", alerta Leandro. A variabilidade genética é a fonte fundamental da evolução e é o que assegura o potencial evolutivo.
O macaco guigó
• O guigó é considerado um primata de médio porte, podendo atingir até 390 milímetros de comprimento. A cauda pode ter 1/3 ou ¼ desse tamanho. O peso varia entre 1 a 2 kg. A testa e orelhas são pretas e o corpo acinzentado, com cauda alaranjada.
• A população da espécie é formada por grupos de 3 a 6 indivíduos, com um casal adulto monogâmico e outros 3 indivíduos, variando entre infantil a subadultos.
• São animais com hábitos crípticos (difícil de perceber ou de interpretar). Ou seja, conseguem se camuflar facilmente na floresta, se alimentam na maior parte das vezes de frutos, flores e plantas e descansam por um longo período.
Comunicação ICMBio – (61) 3341-9280 – com informações do G1
http://www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/noticias/4-destaques/4185-cpb-alerta-para-preservacao-do-guigo-de-sergipe.html
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