Ciência
Oceanografia
Inaugurado nesta quarta-feira no porto de Santos, Alpha Crucis pode atravessar o Atlântico e realizar pesquisas sobre o clima
Por Marco Túlio Pires, de Santos
O Alpha Crucis foi inaugurado nesta quarta-feira no Porto de Santos (Ivan Pacheco)
Foi inaugurada nesta quarta-feira, no Porto de Santos, a embarcação Alpha Crucis, um
investimento de 11 milhões de dólares da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Universidade de São Paulo (USP). É
o segundo navio à disposição da pesquisa marinha brasileira - o outro
membro da "esquadra" é o Atlântico Sul, barco oceanográfico da
Universidade Federal do Rio Grande.
O Alpha Crucis substitui o
navio Prof. W. Besnard, usado desde o fim da década de 1970 pela
comunidade científica e que estava praticamente inutilizado desde 2008
por causa de um incêndio. Com 64 metros de comprimento e 11 de largura, a
nova embarcação aumenta consideravelmente a autonomia dos pesquisadores
brasileiros em alto mar.
Saiba mais
ALPHA CRUCIS Alpha Crucis, ou Acrux, é a
estrela mais brilhante da constelação do Cruzeiro do Sul. Na bandeira do
Brasil, ela representa o estado de São Paulo. O astro também é chamado
de Estrela de Magalhães, homenagem ao navegante português Fernão de
Magalhães, o primeiro navegador a realizar a circum-navegação da Terra. A
estrela está a 321 anos-luz do Sistema Solar.
"Os cientistas poderão
ficar até 70 dias navegando", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor
científico da Fapesp. Com o W. Besnard, o tempo máximo era de 15 dias.
“Isso quer dizer que será possível realizar expedições à África”, diz
Michel Michaelovitch, diretor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP. A
capacidade de pesquisadores a bordo também aumentou. Antes apenas 15
podiam sair em expedições, agora até 23 podem navegar - além dos 18
tripulantes.
Recauchutada - O
novo barco é na verdade um antigo navio que era usado pela Universidade
do Havaí, nos EUA, desde a década de 1970. “Apesar do tempo de uso, a
embarcação foi muito bem conservada”, garante Michaelovitch. O casco em
excelente estado precisou apenas receber novos equipamentos, “que não
perdem em nada para os melhores do mundo”, diz o diretor do IO.
A Fapesp desembolsou 4
milhões de dólares pela compra do casco e dividiu com a USP a
'recauchutada' (3 milhões de dólares na conta da fundação e 4 milhões de
dólares desembolsados pela universidade). Parece muito dinheiro, mas
foi uma pechincha, de acordo com Brito Cruz. "O navio teria custado pelo
menos 35 milhões de dólares se tivéssemos construído do zero", diz.
Equipamentos - Os
novos equipamentos do Alpha Crucis atenderão necessidades de pesquisas
em biodiversidade e mudanças climáticas. A embarcação tem dois motores e
um sistema que permite que ela fique parada em alto mar, independente
do movimento da corrente marinha. “Essa característica é fundamental
para pesquisas oceânicas”, diz Michaelovitch. Uma sonda fará o
levantamento do relevo do fundo do oceano, dois sistemas acústicos
medirão correntes marinhas e uma estação meteorológica completa fará a
analise do clima em qualquer lugar que a embarcação esteja. Viagem inaugural - Frederico
Brandini, professor do IO, fará a viagem científica inaugural do Alpha
Crucis, no fim de julho, para mapear o ciclo do carbono na costa
brasileira, junto com uma equipe de 20 pesquisadores. Ele viajou no W.
Besnard - e em várias embarcações ao redor do mundo. Brinca que o
antigo navio era um carro popular. "Agora temos um jipe, 'semi-novo',
mas muito bem equipado". Com uma costa tão grande, o país precisará de
muitos 'jipes' bem equipados como esse. "Se quisermos realmente lançar a
ciência brasileira ao mar, precisaremos de pelo menos oito embarcações
como essa", avalia Michaelovitch.
Mérito científico - Apesar
de a embarcação ter sido comprada pela Fapesp e pela USP, o diretor do
IO garante que qualquer pesquisador do Brasil poderá pleitear tempo no
Alpha Crucis. "Diretamente, cerca de 500 pesquisadores serão
beneficiados, basta que os pedidos tenham mérito científico", explica.
Além disso, cada instituição precisará arcar com os custos de viagem,
que podem chegar a 20.000 reais por dia. Isso inclui gastos com
alimentação, tripulação, energia e transformação de água salgada em água
potável, algo em torno de 10.000 litros diários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário