Secretário Executivo da CDB fala sobre desafios de conservação da biodiversidade em palestra no JBRJ
Bráulio Dias vê as instituições de pesquisa como parceiros fundamentais para o cumprimento das metas do Protocolo de Nagoia.
Desde que
assumiu o cargo de Secretário Executivo da Convenção da Diversidade
Biológica (CDB), em 2012, Bráulio Dias, ex-Secretário Nacional de
Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, enfatiza qual
a prioridade do seu mandato – implementação. Em palestra no Museu do
Meio Ambiente, dia 11 de julho, o Secretário comentou sobre os desafios
da CDB no Brasil e no mundo para fazer cumprir metas de conservação da
biodiversidade e ressaltou a importância do Jardim Botânico neste
cenário.
A Convenção
sobre Diversidade Biológica nasceu no Rio de Janeiro no âmbito da ECO
92. Foi criada com objetivos de conservação da biodiversidade, mas
também com metas de promoção do uso sustentável e repartição justa e
equitativa dos benefícios dos recursos naturais. Está, portanto, na
interface entre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, pois leva
em conta também aspectos sociais e econômicos.
“Os
problemas da perda de biodiversidade não nascem na área ambiental. Eles
surgem de setores que usam ou impactam a biodiversidade, como o
madeireiro, o de energia, o da exploração pesqueira, da agropecuária,
dos impactos da urbanização etc.”, disse Dias. Por isto, acredita o
Secretário, é essencial avançarmos em mecanismos de conscientização, no
Brasil e no mundo.
Para Dias, a
CDB, nestes últimos 20 anos, foi eficiente em seu principal papel, o de
negociar acordos internacionais. ”Temos hoje uma agenda global sobre
biodiversidade”, orgulha-se o Secretário.
A Convenção adotou em 2010 o
Protocolo de Nagoia, um plano estratégico com vinte metas globais, as
chamadas Metas de Aichi. “As metas são uma referência internacional para
biodiversidade, seguidas por outras convenções que lidam com o tema e
pelos órgãos da ONU. Também temos estimulado bastante a convergência das
grandes ONGs internacionais”, salientou Dias.
No entanto,
para o Secretário, permanece a questão: como unir forças em torno da
implementação destas metas? Apesar do êxito em acordar uma agenda
internacional, Dias reconhece que existe uma distância grande entre
compromissos assumidos e a realidade dos países. “Estamos falando de
mudar a forma como lidamos com o mundo. Sabemos que o 'business as
usual' não vai mais resolver”, afirmou.
Entre
as prioridades, Dias cita as metas que compõem o primeiro dos quatro
grandes objetivos do Protocolo: cuidar das causas últimas que promovem a
perda da biodiversidade. Entre elas está a promoção de mudanças nos
sistemas de produção e consumo, explicitada na Meta 4.
A reforma
dos instrumentos econômicos com vias a sustar incentivos e subsídios a
atividades que causam prejuízos à biodiversidade faz parte da Meta 3.
Inserir a biodiversidade nas políticas e planos nacionais de redução da
pobreza e nas contas nacionais é o objetivo da Meta 2. A Meta 1 fala em
fazer com que todos os cidadãos do mundo entendam os valores da
biodiversidade e saibam o que podem fazer para evitar suas perdas.
“A única
saída que eu vejo para a implementação destes objetivos é reforçar
parcerias, somar esforços. Nenhuma instituição tem capacidade de fazer
tudo sozinha. Para ganhar escala você tem que trabalhar com políticas
públicas e engajar os diversos setores”, disse Dias.
O Secretário
exortou o Brasil a assumir papel de liderança internacional neste
contexto. “Nós temos soluções, capacidade institucional e de pesquisa. O
Brasil tem potencial de exercer liderança pelo exemplo, de compartilhar
experiências”, disse Dias, complementando esta visão com a da
importância de institutos de pesquisa como o Jardim Botânico do Rio de
Janeiro: “Este é um lugar privilegiado na cidade, que, por sua vez, é um
local privilegiado no mundo. Ele pode e deve se tornar um centro de
referência para tudo que está acontecendo”, concluiu Dias.
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