FERNANDO
ALCOFORADO
Eng.º
e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional/Universidade de Barcelona
O
Estado da Bahia enfrenta no momento inúmeros problemas,
destacando-se, entre eles, os seguintes: 1) a inclemência da seca
que afeta, sobretudo o Semiárido,; 2) a pobreza endêmica que atinge
a maior parte da população rural; 3) o congestionamento da BR-324
(Rodovia Salvador-Feira de Santana) e dos acessos e saídas
rodoviárias das cidades de Salvador e Feira de Santana; 4) os mais
elevados índices de criminalidade do Brasil;e, 5) a falta de um
plano democrático de desenvolvimento sustentável que oriente as
ações do governo, do setor produtivo e da população.
Sobre
a inclemência da seca que afeta, sobretudo o Semiárido, uma das
maiores autoridades em recursos hídricos da Bahia, o Engenheiro
Manoel Bomfim, já falecido, escreveu o artigo A seca no Estado da
Bahia no qual questiona o fato de o governo da Bahia não ter
adotado nenhuma medida preventiva para amenizar seus efeitos quando
era de conhecimento geral de que a seca que se instalou nos sertões
do estado da Bahia era prevista de longas datas pelos estudos do
Instituto de Atividades Espaciais-(IAE) de São José dos Campos.
De
acordo com os números divulgados pela imprensa, mais de 500 mil
cabeças de gado já morreram no Semiárido baiano por causa da seca,
e, nos
laticínios,
a quebra foi em torno de 70%. Segundo Manoel Bomfim, o governo da
Bahia foi leniente ao não desenvolver um programa específico e
eterminado de construção de uma estrutura hídrica na Bahia.
Sobre
a pobreza endêmica que atinge a maior parte da população rural da
Bahia, esta situação é demonstrada no estudo de Sonia P. Ribeiro
Contornos e políticas: pobreza rural na Bahia (Século
XXI: temas estratégicos. Salvador:SEPLANTEC, 2003). Neste
estudo, fica evidenciada a falácia da propaganda oficial que afirma
estar a Bahia está em franco desenvolvimento, apesar de ser a quinta
unidade federativa do Brasil em termos de miséria. A miséria da
Bahia só ganha, pela ordem, para a do Maranhão, Piauí, Ceará
e
Alagoas. Sonia Ribeiro deixa bastante evidenciada a ausência de
políticas públicas voltadas para a superação do problema e
capazes de eliminar a carência de assistência à saúde e educação
e a precariedade do saneamento básico, bem como os índices elevados
de mortalidade infantil e analfabetismo.
Sobre
o congestionamento da BR-324 (Rodovia Salvador-Feira de Santana) e
dos acessos e saídas rodoviárias das cidades de Salvador e Feira de
Santana, uma de suas soluções seria a ampliação da capacidade de
tráfego da rodovia e dos acessos rodoviários a Salvador e Feira de
Santana e, a outra, seria a construção da ponte Salvador-
Itaparica. A alternativa rodoviária é mais econômica do que
qualquer outro modal de transporte até 120 Km de extensão.
Se,
por exemplo, for duplicada a BR-324, o custo do investimento seria de
R$ 296.629.200,00 (R$ 2.471.910,00/km). A alternativa de construção
da ponte Salvador- Itaparica, por sua vez, não seria uma solução
eficaz porque traria o inconveniente de transferir o congestionamento
de tráfego da BR-324 para os arredores da ponte tanto em Salvador
quanto em Itaparica.
A
extensão da ponte Salvador- Itaparica (11,7 km ao ser concluída)
seria praticamente equivalente à extensão da ponte Rio-Niterói
(13,3 km). No entanto, o custo/km orçado da ponte Salvador-
Itaparica (R$ 7,4 bilhões/11.7 Km= R$ 632.478.632,00/ Km) é 68%
superior ao da Ponte Rio-Niterói (R$ 5 bilhões em valores
atualizados/13,3 Km= R$375.939.849,00/Km) na qual o autor destas
linhas atuou como engenheiro consultor.
Constata-se,
portanto, que a alternativa de duplicação da BR-324 (R$
2.471.910,00/Km) é muitíssimo mais econômica do que a construção
da ponte Salvador- Itaparica (R$ 632.478.632,00/ Km) o que
inviabiliza economicamente esta última alternativa.
Além
de ser inviável economicamente, a construção da ponte Salvador-
Itaparica trará impactos ambientais representados pela destruição
de ecossistemas marinhos da região, a ocupação desordenada das
áreas de preservação da ilha de Itaparica e o risco de especulação
imobiliária em uma área de infraestrutura precária, entre outros.
Ressalte-se que a Baía de Todos os Santos onde seria implantada a
ponte pertence a uma Área de Proteção Ambiental (APA), desde 1999,
através do Decreto Estadual 7595 e como tal
poderá
sofrer danos irreversíveis se obras desse nível forem construídas
no local.
Sobre
os mais elevados índices de criminalidade da Bahia em relação ao
Brasil, é importante destacar que a Bahia apresenta altos índices
de criminalidade, colocando-se entre as regiões de maior incidência
de índices de criminalidade do País e do mundo. A Bahia apresentou,
no biênio 1997- 98, índices de 9,9 por mil habitantes para a
modalidade de crime de furto e roubo e de 20,33 por mil habitantes
para o agregado de crimes. Ao comparar-se os índices de crime de
roubo verificados na Bahia com outras regiões, que tradicionalmente
apresentam graves problemáticas de criminalidade, como é caso de
São Paulo, constata-se que os índices baianos são ainda maiores.
Os índices de furto e roubo na Bahia são ainda maiores que aqueles
registrados em São Francisco, Los Angeles e Nova Iorque, cidades
consideradas tradicionalmente problemáticas em termos de
criminalidade (Ver o artigo Diagnóstico daCriminalidade na
Bahia:Uma Análise a Partir da Teoria Econômica do Crime de José
Carrera Fernandez e Rogério Pereira no Website
http://www.bnb.gov.br/content/aplicacao/ETENE/Anais/docs/ren2001_v32_ne_a19.pd
f>. Texto de Janaina Garcia do UOL Notícias de 23/02/2011
sob o título Bahia faz diagnóstico sobre criminalidade e propõe
dez delegacias para combater homicídios
informa
que o número de homicídios aumentou 50,7% de 2008 a 2011 na Bahia.
Sobre
a falta de um plano democrático de desenvolvimento sustentável que
oriente as ações do governo, do setor produtivo e da população, é
importante destacar que o estado da Bahia jamais superará seus
gigantescos problemas e construirá o futuro desejado por sua
população se o governo da Bahia não elaborar um plano de
desenvolvimento sustentável com ampla participação dos setores
produtivos e da população. Este plano deve fazer com que os
recursos naturais da Bahia sejam utilizados pela geração atual sem
prejuízo de que estes recursos estejam também à disposição das
futuras gerações.
Além
disso, o governo da Bahia deveria buscar a superação dos gritantes
desequilíbrios regionais existentes como, por exemplo, entre a
Região Metropolitana de Salvador e as demais regiões da Bahia,
buscando maximizar o aproveitamento das potencialidades existentes em
cada região e integrá-las através de sistemas de transporte
apropriados.
Pelo
exposto, as grandes prioridades da Bahia no momento são a
minimização dos problemas trazidos pela seca, o combate à pobreza
endêmica que afeta o estado, a superação do congestionamento de
veículos na BR-324, a redução dos índices de criminalidade e a
necessidade da elaboração de um plano de desenvolvimento
sustentável para a Bahia.
Diante
da incompetência do governo do Estado na solução dos problemas
acima citados e, sobretudo, da tentativa do governo do estado de
impor a todo o custo a construção da ponte Salvador- Itaparica,
inviável econômica e ambientalmente, não resta à Sociedade Civil
outra ação a não ser combater veementemente sua implementação
acionando, inclusive o Ministério Público para sustá-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário