PERDA DE BIODIVERSIDADE É UM DOS PROBLEMAS MAIS GRAVES ENFRENTADOS ATUALMENTE PELA HUMANIDADE
Dados foram apresentados por pesquisador da Malásia na abertura da
primeira Reunião Regional da América Latina e Caribe da IPBES
Cerca de 75% da diversidade genética de culturas agrícolas foi perdida
no último século e 22% das raças bovinas no mundo estão em risco de
extinção. Os dados foram apresentados ontem, pelo pesquisador da
Malásia, Zakri Abdul Hamid, presidente da Plataforma Intergovernamental
sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES, na sigla em
inglês), na abertura da primeira Reunião Regional da América Latina e
Caribe desse organismo, realizada na Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo. Ele alertou ainda que a perda de biodiversidade é
um dos problemas mais graves enfrentados atualmente pela humanidade e
vem ocorrendo de forma rápido e em todas as regiões do planeta.
Criado em abril de 2012, depois de oito anos de negociações
internacionais, o IPBES tem o objetivo de organizar e sistematizar o
conhecimento científico acumulado sobre biodiversidade, para dar
subsídios a decisões políticas em âmbito internacional sobre o assunto. É
um trabalho semelhante ao que tem sido feito nos últimos 20 anos pelo
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em
inglês). O IPBES está organizado em três estruturas fixas: secretariado,
diretoria e o Painel Multidisciplinar de Especialistas (MEP, na sigla
em inglês).
O primeiro é gerenciado por quatro programas da
Organização das Nações Unidas (ONU): Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (Pnuma), Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco), Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO). O MEP, por sua vez, é composto por 25 membros, com
mandato de dois anos, escolhidos durante a primeira reunião plenária do
secretariado, realizada entre 21 e 26 de janeiro na cidade de Bonn, na
Alemanha. Entre eles, está o brasileiro Carlos Alfredo Joly, professor
do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
coordenador do programa Biota-Fapesp. Em junho, ele também foi eleito
um diretores do MEP.
De acordo com Joly, o MEP é fundamental
no IPBES, pois é o responsável por definir o programa de trabalho da
plataforma. Além disso, tem a complexa tarefa de integrar o conhecimento
científico com outros saberes, como, por exemplo, os de comunidades
indígenas e locais. Também é função do MEP solucionar o desafio de
estabelecer as metodologias que serão utilizadas nos diagnósticos, para
possibilitar que avaliações sub-regionais possam ser transformadas em
regionais, que por sua vez serão integradas em um diagnóstico global de
biodiversidade.
Joly disse que sua eleição para o MEP e para
sua diretoria é resultado da inserção do programa Biota-Fapesp no debate
internacional sobre biodiversidade. "A escolha de meu nome pelo MEP
indica que também na área de transformação do conhecimento em políticas
de conservação, restauração e uso sustentável da biodiversidade, o Biota
conquistou seu espaço no cenário internacional", disse.
Segundo Joly, apesar das semelhanças entre o trabalho do IPBES e do IPCC
há diferenças. "Além da função de fazer o diagnóstico, o IPBES tem um
diferencial muito grande em relação ao IPCC pelo fato de se preocupar
com a questão da capacitação profssional", explicou. "Isso vai desde a
geração da informação sobre a biodiversidade até a interface entre o
cientista, o público e o tomador de decisão. Precisamos treinar e
capacitar pessoas e instituições para desempenharem esse papel e
identificar as lacunas de conhecimento que temos e de que forma podemos
equacionar esse problema. Nós podemos identificar que nos faltam
conhecimento sobre biodiversidade oceânica, de maneira geral. Como isso
pode ser equacionado? Que medidas precisam ser tomadas e qual a
importância disso quando se pensa em modelos climáticos?"
Na
reunião de ontem, Hamid, por sua vez, alertou que a perda de
biodiversidade global tem o agravante de ocorrer em um momento de
grandes mudanças climáticas globais e da necessidade de aumentar
drasticamente a produção de alimentos, para atender o crescimento da
população mundial. Sobre a crescente perda da diversidade genética de
culturas agrícolas, o presidente do IPBES disse que isso está ocorrendo
por causa do cultivo, por agricultores de todo o mundo, de variedades
geneticamente uniformes e de alto rendimento e o abandono de muitas
variedades locais. "Existem 30 mil espécies de plantas, mas apenas 30
culturas são responsáveis por fornecer 95% da energia dos alimentos
consumidos pelos seres humanos", explicou. "E a maior parte delas, cerca
de 60%, se resume a arroz, trigo, milho, milheto e sorgo."
No
caso, das perdas de diversidade genética de animais domésticos, segundo
Hamid, ela é resultado da falta de visão geral do valor de raças
nativas e de sua importância na adaptação às mudanças climáticas
globais. "Isso é consequência de incentivos à promoção de raças mais
uniformes e da seleção focada de produtos agropecuários", disse. De
acordo com ele, a solução para tentar minimizar o risco de
desaparecimento tanto dessas espécies de animais como de plantas é
criar, cada vez mais, bancos de germoplasma (unidades de conservação de
material genético de uso imediato ou com potencial uso futuro). Além
disso, na esfera política, é preciso capacitar os tomadores de decisão
para que atuem no sentido de reverter o problema da perda de
biodiversidade existente no mundo hoje.
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