Rio+20 ou Rio-20?
TweetPor Iara Pietricovsky, do Inesc
Está praticamente definido o texto que será aprovado amanhã, 22 de
junho, na Cúpula oficial da Rio+20 – o evento internacional mais
importante deste ano. Um cenário lamentável de retrocesso. Os governos,
pressionados por uma lógica de “cada um por si” e o mundo que se dane,
nos levaram a assistir uma farsa. A abertura oficial, comandada pela
presidenta brasileira, Dilma Rousseff, e pelo Secretario Geral da ONU,
Ban Ki Moom, foi realizada em um ambiente insosso, burocrático. Os
governantes discursaram para uma plateia desinteressada e como se
tivessem copiado um o discurso do outro. Monocórdios, sem luz, sem
compromisso repetiam a mesma ladainha, sem brilho e vigor. Esse foi o
sentimento predominante dos representantes da sociedade civil que
assistiram a abertura. Pensar que em 1992 o mundo vivia a expressão
máximo do neoliberalismo, quando presenciou o desmantelamento do papel
do Estado, a transferência progressiva
do poder às grandes corporações financeiras, comerciais, industriais e
agrárias. Hoje observamos um processo declarado de apropriação privada
do espaço público de forma geral e irrestrita, inversão de uma ordem
que nos custa reverter 20 anos depois e com a anuência dos governos.
Vimos governos fracos, apresentando um documento inconsistente e sem a
ambição necessária para reagir à destruição do Planeta, que ainda pensam
na lógica do crescimento econômico como base para o enfrentamento das
crises econômica, social e ambiental. Nosso cenário, em números, é
desanimador. Constatamos que existem mais de um bilhão de pessoas
ameaçadas de morrer de fome, que a distância entre ricos e pobres está
aumentado, com 70% dos recursos mundiais desfrutados pelos 20% mais
ricos, enquanto aqueles no quintil inferior ficam somente com 2%.
Comprovamos uma ausência de vontade política dos países mais ricos em
mudarem seu
padrão de consumo, estilo de vida, porque em grande medida é disso que
se trata, os mais ricos são os maiores responsáveis por este padrão que
se mostra esgotado e em crise. Lacunas e falta de vontade política no
momento de colocar em prática os acordos internacionais, a Agenda 21, os
Princípios do Rio, que saíram das Rio92, e todos os outros do Ciclo
Social. A nossa crise é de implementação e não de ausência de um marco
decente para que possamos fazer a mudança de modelo de desenvolvimento. É
uma tensão política e econômica, onde os algozes defensores de um
modelo predatório insistem em sua sobrevivência e hegemonia. O documento
que será aprovado amanhã retrocedeu nos direitos das mulheres, não
resolveu o problema do financiamento ao desenvolvimento sustentável e
muito menos os problemas diretamente relacionados à mudança climática,
assim como, não solucionou o problema de transferência de tecnologia,
direito a água, piso social básico, entre muitos dos temas fundamentais
para que os direitos humanos sejam efetivados e os países caminhem para
um rota de sustentabilidade. Mesmo naquilo que o documento aponta como
positivo a linguagem é pouco substanciosa, voluntária e fragiliza os
Princípios aprovados há 20 anos na Rio92. Os governos reconhecem a crise
econômica e sua profundidade, no entanto, não se mostraram corajosos
nas decisões que poderiam atacar esta situação. A proposta dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável deveria estar vinculada aos Princípios
de responsabilidades comuns, porém diferenciadas; país poluidor-pagador e
o da precaução, o que infelizmente não ocorreu, a sua citação é frágil.
O que nós, da Cúpula dos Povos, preconizamos é que a efetivação dos
direitos e a busca de processos sustentáveis só será possível, com novas
formas de fazer política, com participação das populações, em
especial, aquelas afetadas por este desenvolvimento predatório, assim
como com outra forma de relação política entre os povos do Planeta. Os
países e seus governos não podem mais trabalhar na lógica dos
interesses econômicos, mas sim da solidariedade e da mudança radical de
padrões de produção e consumo. Cada país possui uma responsabilidade
neste processo e deveria estar atuando de forma efetiva.
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