Embrapa busca clonagem inédita de animais ameaçados de extinção no Brasil
Atualizado em 15 de novembro, 2012
A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária(Embrapa) planeja trabalhar na clonagem de espécies
ameaçadas de extinção no Brasil, de animais como lobo-guará, onça
pintada e veado catingueiro.
O projeto ainda depende da aprovação do
departamento jurídico da Embrapa e não tem prazo de conclusão. Mas, se
bem-sucedido, pode resultar na primeira clonagem de um animal silvestre
no país.
A iniciativa é feita em parceria com o Jardim Zoológico de Brasília, que será o destino final dos animais clonados.
"Há dois anos, coletamos material genético de
animais mortos (na região do Cerrado), por exemplo, em acidentes
rodoviários ou em zoológico", explicou à BBC Brasil o pesquisador do
Embrapa Carlos Frederico Martins.
"Agora, surgiu a ideia de uma nova parceria,
ainda não pronta, de coletar material não apenas do Cerrado, mas também
de animais vivos de outros biomas e faunas exóticas para inseminação
artificial e clonagem."
Uma das técnicas a serem usadas é a semelhante à
da ovelha Dolly. "Trata-se da técnica de transferência de núcleos.
Retiramos o núcleo do ovócito (célula que dá origem ao óvulo) e o
substituímos pela célula do indivíduo a ser clonado, do qual temos
material genético", diz o pesquisador, que é médico veterinário com
mestrado em reprodução animal.
Experiência com bovinos
A Embrapa tem um banco de 420 amostras de oito espécies de animais. Concluída a aprovação em seu departamento jurídico, ainda buscará o aval do Ibama para usá-las."Já temos a tecnologia para fazer a clonagem de bovinos. Agora, queremos transferi-la para a clonagem de animais silvestres, estudando-a em animais nas quais ela nunca foi usada", prossegue. "Mas, mesmo em bovinos, é uma técnica ainda ineficiente às vezes, então, temos que ir devagar. Conhecemos pouco (da aplicação desses métodos) em espécies selvagens, então, isso pode demorar um pouco."
Serão estudadas espécies que não necessariamente correm risco iminente de extinção, mas cuja população tem diminuído. Futuros animais clonados seriam mantidos no zoo, onde seriam estudados e usados para a reposição natural de animais que morram.
Segundo o pesquisador, os animais clonados não estariam aptos para viver na natureza selvagem, e a Embrapa não teria como monitorá-los.
O Jardim Zoológico de Brasília, por sua vez,
criará um laboratório para dar prosseguimento aos estudos da Embrapa.
Ambas as instituições captarão recursos para o projeto, mas Martins
ainda não sabe estimar quanto custará a clonagem.
"A clonagem de um bovino pode custar de R$ 30
mil a 50 mil, mas não sabemos se esses valores serão os mesmos para
animais silvestres."Atenção internacional
O projeto brasileiro despertou a atenção internacional. A versão online da revista especializada New Scientist
noticiou a iniciativa e citou a primeira clonagem da Embrapa, em 2001 -
uma vaca batizada de Vitória, que morreu no ano passado -, e os cem
animais clonados desde então, principalmente bovinos e equinos.
O jornal britânico The Guardian
destacou que muitos conservacionistas veem com reservas a iniciativa de
clonar animais ameaçados, temendo que isso desvie o foco da preocupação
principal: proteger o habitat desses animais.
Segundo Martins, o projeto da Embrapa não
pretende se tornar a principal ferramenta de conservação dessas espécies
e lembra que a clonagem diminui a variedade genética do reino animal.
"É algo complementar (a esforços de conservação) de matas, rios e
reservas.
Nosso objetivo principal é estudar a técnica, ver como ela se
comporta e ver se é possível produzir animais do nosso bioma, para
quando precisarmos."
BBC © 2013
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