Florestas energéticas podem contribuir para preservar a Caatinga
Como solução,
não pode ser considerada definitiva, mas o plantio de eucaliptos é
uma alternativa para diminuir a pressão sobre a caatinga para
a retirada de lenha que abastece os fornos das industrias gesseiras na
Chapada do Araripe. O rápido crescimento, a uniformidade da lenha e
o rendimento energético dessa espécie exótica podem reduzir em 2,6
vezes a demanda por madeira da vegetação nativa.
A produtividade
(100 m3.ha-1)
alcançada por dois híbridos de eucalipto submetidos a 5 anos de
testes experimentais garante, com o plantio de apenas 8,1 ha.dia-1,
a quantidade de madeira necessária para atender a demanda energética
da região – incluindo as mais de 100 indústrias gesseiras: 5.250
mst.dia-1.
No atual modelo de exploração intensiva, para suprir essa demanda é
preciso por abaixo nada menos que 21 ha da vegetação nativa.
“Isto livraria
pelo menos 13 ha.dia-1
da caatinga do desmatamento indiscriminado”, garante o pesquisador
Marcos Drumond, da Embrapa Semiárido.
Devastação
- Com este resultado, ele considera adequado recorrer ao plantio de
eucalipto nos locais onde a Caatinga já está intensamente
degradada.
“Não indicamos
de forma alguma o corte da mata nativa para implantar floresta
energética. Mas na situação em que se encontra a Chapada, o
cultivo do eucalipto em algumas áreas ajuda a conter o desmatamento
e preservar a vegetação nativa”.
A Chapada do
Araripe se estende por mais de 76 mil km2
dos estados Ceará, Piauí e Pernambuco. Este último abriga em seu
subsolo a
maior
reserva de gipsita em exploração do Brasil. É a maior área de
produção da América Latina, a segunda do mundo, e abastece 95% do
mercado nacional.
A
exploração dessa riqueza já acarretou o corte de mais de 65% de
toda a vegetação na área da Chapada. A lenha abastece os fornos
que fazem a desidratação do minério (gipsita).
Drumond destaca do eucalipto não apenas suas qualidades energéticas.
Segundo ele, nas condições do plantio realizado no Campo
Experimental do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), na Serra
do Araripe, as plantas alcançam o ponto de corte já no quarto ano.
Este
rápido ciclo de produção é outro aspecto relevante para apoiar a
implantação de cultivos comerciais de eucalipto no Araripe. “Não
se trata de sair estimulando o plantio por toda a área da Chapada de
forma indiscriminada. O que se recomenda é o cultivo apenas nas
áreas onde a caatinga está devastada de forma intensa”, explica o
pesquisador.
Ele
acredita que o plantio de eucalipto pode ainda ajudar a consolidar as
atuais experiências de manejo florestal por parte de alguns
empresários da região.
Em
geral, elas
funcionam com um ciclo de rotação dos cortes que variam de 13 a 15
anos. Assim, vão se alternando as áreas de corte até a caatinga
recuperar sua capacidade de estoque médio de lenha situado entre 160
e 200 mst.ha-1,
respectivamente.
Marcos também
ressalta que os resultados das pesquisas realizadas pelos
especialistas da Embrapa Semiárido, IPA e Universidade Federal Rural
de Pernambuco, são mais promissores que o previsto no planejamento
de projetos de formação de floresta energética no Brasil e que
envolve o plantio de espécies de rápido crescimento.
Nestes projetos,
os cortes são previstos só a partir do sexto ano, e com previsão
de um incremento médio anual (IMA) entre 30 m3/ha.ano-1
e
43 m3/ha
ano-1.
No plantio do Araripe, um microclima dentro do semiárido, o primeiro
corte acontece depois de quatro anos do plantio e um IMA de 100
m3.ha-1.
“São resultados excelentes”, garante Marcos.
Integração
- Segundo ele, a implantação de floresta energética no Araripe
pode ser consorciada com uma gramínea para integrar essa atividade à
criação pecuária, que uma fonte de renda tradicional dos
agricultores familiares da região.
Contatos:
Marcos Drumond –
Pesquisador;
Fernanda
Birolo Jornalista (MTb/AC 81)
Marcelino
Ribeiro Jornalista (MTb/BA 1127)
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