Boqueirão da Onça : o parque que virou mosaico
21 de Junho de 2011
Boqueirão da Onça (BA) - Era uma vez um parque. Uma ideia de parque, na verdade. O plano era dar proteção integral a cerca de 900 mil hectares no coração da Caatinga. O parque no Boqueirão da Onça sonhado fica em uma região de difícil acesso, com terra pouco valorizada, poucas estradas (nenhuma pavimentada) e com pouca gente em volta – três habitantes por mil quilômetros quadrados. Perfeito para a conservação.
A necessidade de se criar áreas de conservação na Caatinga é real. É o bioma em região de semiárido com maior diversidade de espécies no mundo – e também o mais populoso. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente divulgados esse mês, sua vegetação original perdeu mais de 45% com desmatamento. No último período, o bioma perdeu 1.921 quilômetros quadrados.
O coordenador do bioma Caatinga no ministério do Meio Ambiente, João Arttur Seyffarth, conta que apenas 1,4% da região tem unidades de conservação com proteção integral. “E a maior parte tem pouca estrutura”, reconhece.
A necessidade de se criar áreas de conservação na Caatinga é real. É o bioma em região de semiárido com maior diversidade de espécies no mundo – e também o mais populoso. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente divulgados esse mês, sua vegetação original perdeu mais de 45% com desmatamento. No último período, o bioma perdeu 1.921 quilômetros quadrados.
O coordenador do bioma Caatinga no ministério do Meio Ambiente, João Arttur Seyffarth, conta que apenas 1,4% da região tem unidades de conservação com proteção integral. “E a maior parte tem pouca estrutura”, reconhece.
Para os moradores do Boqueirão da Onça, a eletricidade ainda está chegando, a televisão é novidade de poucos, celular nem pensar. A flora é complexa e a fauna está em casa. A região está no sertão baiano, próxima do Lago de Sobradinho e, desde que anunciaram os estudos para criação de um parque, em 2002, perdeu cobertura verde e ficou menor. Apareceram mineradoras interessadas no subssolo, empresas de energia eólica disputam o vento e o valor da terra triplicou.
A pressão nasceu na Bahia selvagem e chegou à Brasília burocrata. Os estudos atuais em negociação com o ICMBio, ministério das Minas e Energia e governo da Bahia não fala mais em um grande parque. Os trabalhos preveem a criação de um mosaico de unidades de conservação com uma área de 117 mil ha como monumento natural, 420 mil ha como área de proteção ambiental (APA) e um pedaço de 317 mil ha para o parque nacional.
A pressão nasceu na Bahia selvagem e chegou à Brasília burocrata. Os estudos atuais em negociação com o ICMBio, ministério das Minas e Energia e governo da Bahia não fala mais em um grande parque. Os trabalhos preveem a criação de um mosaico de unidades de conservação com uma área de 117 mil ha como monumento natural, 420 mil ha como área de proteção ambiental (APA) e um pedaço de 317 mil ha para o parque nacional.
Mosaico ou retalhos?
O mosaico nasceu da pressão de mineradoras e empresas geradoras de energia eólica. A prova dessa afirmação está nos desenhos dos estudos para criação do parque, de preferência comparando antes e depois da descoberta de jazidas de minério e de vento. O que era parque perdeu áreas para a mineração. As regiões onde estudos prometem vento capaz de mover aerogeradores se transformaram em APA.
O desenho do mosaico é provisório, adverte o coordenação de Criação de Unidades de Conservação do ICMBio, Nelson Yoneda, responsável pelo levantamento do memorial descritivo da região, etapa necessária para o encaminhamento que pretende tirar o parque Boqueirão da Onça do papel. Falta ainda o parecer do governo da Bahia.
O Boqueirão da Onça é a cara da Caatinga em uma de suas manifestações mais exuberantes. O bioma tem uma beleza que precisa ser descoberta. Muitas vezes sua flora é arbustiva, outras cheia de árvores. Na época das chuvas, é verde vivo. No tempo da seca, as plantas dispensam as folhas como estratégia para poupar energia. A mata fica branca, resiste ao sol e à escassez de água.
Um dos inventários feitos pelo Centro de Recuperação de Áreas Degradas (Crad) da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), em 2006, mostra a importância do Boqueirão com suas espécies endêmicas, raras e algumas ameaçadas. Em números brutos, a região possui 932 espécies de plantas, 380 exclusivas da região. O Boqueirão da Onça tem suas curiosidades. Há momentos em que no meio da Caatinga aparece um Cerrado, na Serra do Mimoso.
Outro estudo de pesquisadores do Crad compara imagens do satélite Landsat feitas em 2000 e 2009 e faz um estudo capaz de identificar áreas de degradação vegetal. Ao analisar a área em 2000, o estudo estima “em 89% a cobertura vegetal no grau de transição a conservada e 11% áreas degradadas”. A análise é grave: “Houve aumento da substituição da cobertura vegetal por atividades econômicas de caráter criminoso e clandestino”, escrevem os pesquisadores liderados pelo professor José Alves Siqueira.
A fauna é rica e inclui onça pintada. O maior dos felinos das Américas está por lá. A presença de onças representa um indício de qualidade do habitat, explica a pesquisadora Cláudia Bueno de Campos. “Como a onça é um predador no topo da cadeia alimentar, sua presença significa que os outros animais que servem de alimento para ela vivem lá e encontram seu alimento na região”, explica a bióloga.
O trabalho de Cláudia Campos para o Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíveros Carnívoros (Cenap) já registrou imagens das onças através de armadilhas fotográficas. Ela é outra admiradora da riqueza biológica da região e defende iniciativa pela conservação rigorosa do Boqueirão da Onça.
Além de onças, o Boqueirão também abriga veados e raposas, encontrados até nas estradas. Os primeiros estudos do ICMBio registraram grande diversidade de espécies, mesmo sem levantamento faunístico. Araras vermelhas, sabiás-gongás, picapauzinhos, abelhas raras e espécie endêmica de anuros.
Um dos inventários feitos pelo Centro de Recuperação de Áreas Degradas (Crad) da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), em 2006, mostra a importância do Boqueirão com suas espécies endêmicas, raras e algumas ameaçadas. Em números brutos, a região possui 932 espécies de plantas, 380 exclusivas da região. O Boqueirão da Onça tem suas curiosidades. Há momentos em que no meio da Caatinga aparece um Cerrado, na Serra do Mimoso.
Outro estudo de pesquisadores do Crad compara imagens do satélite Landsat feitas em 2000 e 2009 e faz um estudo capaz de identificar áreas de degradação vegetal. Ao analisar a área em 2000, o estudo estima “em 89% a cobertura vegetal no grau de transição a conservada e 11% áreas degradadas”. A análise é grave: “Houve aumento da substituição da cobertura vegetal por atividades econômicas de caráter criminoso e clandestino”, escrevem os pesquisadores liderados pelo professor José Alves Siqueira.
A fauna é rica e inclui onça pintada. O maior dos felinos das Américas está por lá. A presença de onças representa um indício de qualidade do habitat, explica a pesquisadora Cláudia Bueno de Campos. “Como a onça é um predador no topo da cadeia alimentar, sua presença significa que os outros animais que servem de alimento para ela vivem lá e encontram seu alimento na região”, explica a bióloga.
O trabalho de Cláudia Campos para o Centro Nacional de Pesquisas e Conservação de Mamíveros Carnívoros (Cenap) já registrou imagens das onças através de armadilhas fotográficas. Ela é outra admiradora da riqueza biológica da região e defende iniciativa pela conservação rigorosa do Boqueirão da Onça.
Além de onças, o Boqueirão também abriga veados e raposas, encontrados até nas estradas. Os primeiros estudos do ICMBio registraram grande diversidade de espécies, mesmo sem levantamento faunístico. Araras vermelhas, sabiás-gongás, picapauzinhos, abelhas raras e espécie endêmica de anuros.
Cenário
Boqueirão é como se chama, na Bahia, uma garganta entre serras, normalmente com um rio. A paisagem do Boqueirão da Onça tem planos, maciços e serras com mais de 1.200 metros. Possui as nascentes e as planícies fluviais dos rios Jacaré (ou Vereda do Roma) e Salitre (ou Gramacho ou Vereda da Tábua), que deságuam no Velho Chico.
Há notícias de exploração de ferro e manganês, nas proximidades do Boqueirão. No interior, há garimpos de cristais, citrino e ametistas, entre outras pedras. A região também possui cavernas de dimensões sem par, de máxima relevância na avaliação do chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav) do ICMBio, Jocy Cruz. Na margem esquerda do Rio Pacuí, ocorrem várias dessas formações geológicas. O destaque é a Toca da Boa Vista, a maior caverna do Hemisfério Sul, com 100 quilômetros medidos. O sistema é de interesse geológico, paleontológico e arqueológico. As cavernas, nos novos estudos no ICMBio, ficaram na área destinada ao monumento natural.
Há notícias de exploração de ferro e manganês, nas proximidades do Boqueirão. No interior, há garimpos de cristais, citrino e ametistas, entre outras pedras. A região também possui cavernas de dimensões sem par, de máxima relevância na avaliação do chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav) do ICMBio, Jocy Cruz. Na margem esquerda do Rio Pacuí, ocorrem várias dessas formações geológicas. O destaque é a Toca da Boa Vista, a maior caverna do Hemisfério Sul, com 100 quilômetros medidos. O sistema é de interesse geológico, paleontológico e arqueológico. As cavernas, nos novos estudos no ICMBio, ficaram na área destinada ao monumento natural.
www.oeco.com.br
reportagem na integra, acesse:http://almacks.blogspot.com/2012/03/boqueirao-da-onca-o-parque-que-virou.html
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