Parceria evita colisões entre barcaças e baleias na região de Abrolhos
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Uma parceria entre biólogos, ambientalistas e a iniciativa privada está
ajudando a evitar uma modalidade especialmente calamitosa de acidente de
trânsito: trombadas entre baleias e barcos na região de Abrolhos, entre
a Bahia e o Espírito Santo.
Criar um bom sistema de "semáforos" marinhos é crucial para esse pedaço
da costa brasileira porque ele combina elementos que aumentam o risco de
colisões.
Por um lado, Abrolhos e adjacências concentram cerca de 90% das 11 mil
baleias-jubartes que passam pelo Brasil todos os anos. Esses cetáceos,
lentos e de hábitos costeiros, são a segunda espécie mais atropelada de
baleia (só "perdem" para as baleias-francas).
Por outro lado, a região abriga um movimentado tráfego de barcaças
carregando toras de madeira e celulose oriundas das florestas de
eucalipto da região -trânsito que ganhou porte com a instalação de um
terminal de transporte marítimo em Caravelas (BA) no começo da década
passada.
Deixada ao deus-dará, a situação degringolaria em considerável contagem
de corpos de jubartes --e prejuízos para as empresas de madeira.
Por isso mesmo, o monitoramento das rotas das baleias na região foi uma
das condicionantes ambientais impostas pelo governo para a criação do
terminal de Caravelas, afirma Márcia Engel, bióloga do Instituto Baleia
Jubarte.
"Fizemos levantamentos aéreos e cruzeiros de pesquisa para estudar essas
áreas de concentração das jubartes e estabelecer rotas com menor
densidade de animais."
O trabalho foi feito com apoio da Fibria, empresa de celulose que
pretendia transportar madeira de Caravelas e Belmonte (BA) para Aracruz
(ES) --no segundo caso, em "joint venture" com outra empresa, a Stora
Enso.
A equipe do Instituto Baleia Jubarte mostrou que era possível evitar
encontros trágicos com os cetáceos no trajeto de 275 km, desde que as
barcaças mantivessem rotas não muito coladas à costa, região preferida
pelos bichos.
Ao que tudo indica, a estratégia tem dado certo. Dez anos depois do
estabelecimento do terminal de Caravelas, não há evidência de choque com
as barcaças.
E não é que atropelamentos do tipo não tenham ocorrido na região, lembra
Engel. No mesmo período, houve ao menos três colisões, uma delas
envolvendo um catamarã que fazia a rota entre Salvador e Morro de São
Paulo.
Perto de Itaparica, tripulação e passageiros sentiram uma pancada. Ao
olhar para trás, "o pessoal viu uma baleia e uma grande mancha de sangue
na água", diz a bióloga. Provavelmente era uma jubarte, embora a
identificação da espécie não tenha sido feita. O navio afundou.
Outra preocupação ligada ao estabelecimento de um porto numa área de reprodução de baleias é o barulho.
Os sons emitidos pelas jubartes são importantes para o acasalamento e o
cuidado com as crias. O temor é que o barulho causado pelo tráfego
marítimo atrapalhe a comunicação entre os animais.
Por enquanto, não há evidências de que isso esteja acontecendo em
Abrolhos, diz Engel, apesar dos 5 milhões de metros cúbicos de madeira
transportados ali entre 2010 e este ano.
Um dado mais preocupante tem vindo da população de botos-cinza do
estuário do rio Caravelas. Com cerca de cem indivíduos, esse grupo
parece estar se reduzindo. Ainda não é possível saber se isso é um
impacto do tráfego.
O repórter fotográfico MARCELO JUSTO viajou a convite da Fibria
|
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Links no texto:
Veja imagens da região de Abrolhos
http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/11750-baleias-em-abrolhos
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