Pouca variedade de cobaias leva a atraso científico, diz bióloga
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
A panelinha de espécies que hoje domina os laboratórios de biologia
precisa acabar, alerta uma pesquisadora americana nas páginas da revista
científica "Nature".
Para Jessica Bolker, professora de zoologia da Universidade de New
Hampshire, a fixação dos cientistas em um punhado de cobaias -as mais
conhecidas são os onipresentes camundongos, ratos e moscas-das-frutas-
atrapalha o avanço da pesquisa e pode até estar adiando a descoberta de
curas.
"Estudar apenas alguns organismos faz com que a ciência fique limitada
às respostas que essas espécies podem trazer", diz Bolker.
"Essas limitações têm tido consequências sérias. As disparidades entre
humanos e camundongos podem ajudar a explicar porque os milhões de
dólares gastos com a pesquisa básica têm trazido avanços clínicos
frustrantes."
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Editoria de Arte/Folhapress |
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PROBLEMA HISTÓRICO
Razões históricas e de praticidade explicam, em grande parte, como a
panelinha se formou. A partir do começo do século 20, essas espécies se
tornaram populares porque eram fáceis de criar e se reproduziam às
pencas.
No caso das moscas-das-frutas, outro ponto a favor foram seus grandes
cromossomos, fáceis de observar e úteis para estudos genéticos.
De acordo com Bolker, cada animal traz certos tipos de vieses. Muitos
camundongos, por exemplo, pertencem a linhagens com alto grau de
consanguinidade (pelo cruzamento de parentes próximos entre si).
Isso faz com que eles sejam geneticamente muito homogêneos. Assim,
testes de medicamentos envolvendo os bichos muitas vezes não simulam bem
o que aconteceria na população humana, geneticamente mais variada.
Já as moscas-das-frutas e o verme
C. elegans, embora tenham
ajudado os cientistas a entender como uma só célula dá origem a um
animal, parecem ter o "defeito" de fazer esse processo parecer mais
simples do que realmente é.
Seu desenvolvimento é relativamente inflexível, recebendo influências
modestas de alterações no ambiente -coisa que não ocorre na maioria dos
seres vivos, diz Bolker.
Como minimizar esse tipo de problema? Em primeiro lugar, dando mais
apoio, inclusive financeiro, à busca por "organismos-modelo"
alternativos, diz a pesquisadora.
Alguns dos animais promissores listados por ela são criaturas exóticas.
Um exemplo: peixes da Antártida com esqueletos finíssimos, os quais
poderiam ajudar a entender melhor a osteoporose.
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