A prefeitura de Ilhéus, na Bahia, acaba que criar um parque municipal marinho com aproximadamente 5 hectares. A regulamentação do parque foi feita na semana do meio ambiente, mas a motivação passa ao largo da efemêride. A unidade de conservação criada a pedido da população com o objetivo de proteger os meros (Epinephelus itajara) tem relação com a identidade que a pessoas simples estabeleceram com o grande peixe, analisa o secretário de meio ambiente, Harildon Machado Ferreira.
O interesse da população pela preservação do mero (um peixe que está longe de pertencer a categoria dos simpáticos, como os golfinhos e as tartarugas) tem relação com o boom da pesca submarina, nas décadas de 70 e 80. Ilhéus se tornou conhecida e atraiu caçadores por causa da facilidade em se capturar o mero. “O peixe era morto por arpão, exemplares muito grandes, com mais de dois metros, e eram pendurados nas árvores da cidade”, lembra Harildon.
Um desses mergulhadores é o hoje vereador Marcus Flávio. O pensamento por ele externado é semelhante ao de pescadores e moradores da cidade cenário de Gabriela, cravo e canela, Jorge Amado. Depois de tantas caças, os meros começaram a ficar menores, depois difíceis de achar, até se tornarem raros. Hoje são encontrados em listas das espécies ameaçadas. O Epinephelus itajara está tanto na lista vermelha da IUCN como na relação do Ministério do Meio Ambiente. A caça, armazenamento e transporte do mero são considerados crime ambiental.
A facilidade com a qual os mergulhadores com arpão matavam o mero tem relação aos hábitos desse animal que é tranquilo, isolado e territorialista. No verão (de dezembro a abril, em Ilhéus), o mero faz o que os biólogos chamam de agregações reprodutivas. E existe uma certa preferência pela área entre a Pedra de Ilhéus, Ilhéuzinho, Itaipinho, Itapitanga e Sororoca – agora parque municipal marinho. A região é próxima do estuário de três rios e tem formação de mangue, o berçário natural.
O mero é da família da garoupa, cherne e badejo. Pode chegar 2,7 metros de comprimento e pesar mais de 400kg. Habita regiões recifais, lajes, estuários e manguezais, além de ser encontrado em naufrágios e outras estruturas submersas. Os filhotes possuem um crescimento lento e só atingem a maturidade sexual com seis anos ou 60kg.
A identidade da população com o peixe e a pressão popular levaram a prefeitura a estabelecer um rito de criação de unidade de conservação diferente. “Normalmente é feito um levantamento da área, depois estudos sobre as espécies do local”, conta o secretário Harildon. “Agora nesse caso, a decisão foi política, em resposta ao povo”, resume.
O Parque Municipal Marinho dos Ilhéus teve participação da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), da colônia de pesca Z-19, do Instituto Floresta Viva, apoio técnica do projeto Meros do Brasil e financeiro do SOS Mata Atlântica e Fundação O Boticário. |
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